A nação é a sociedade política básica, e o Estado, seu instrumento de ação coletiva por excelência. Por isso os povos lutam tanto para formar seu estado-nação – a unidade político-territorial soberana constituída por uma nação, um território e um Estado.
Uma nação é forte ou fraca conforme seus membros partilhem de uma história e um destino comum, e conforme seja mais, ou menos, coesa e solidária. Contra a coesão e a solidariedade de cada nação agem forças internas – o conflito de classes que será tanto maior quanto for a desigualdade entre as famílias, – e forças externas: o poder imperial das nações mais fortes econômica e culturalmente, que buscam mantê-la subordinada, incapaz de competir na cena internacional.
A última vez que a nação brasileira foi forte – solidária e independente – foi nos anos 1980 quando ocorreu a transição democrática, quando os brasileiros se uniram, comprometeram-se com a democracia e a diminuição das desigualdades, e aprovaram a Constituição de 1988. Nos anos seguintes o país avançou nesses dois pontos, mas o desenvolvimento econômico, que parecia garantido porque fora muito grande entre 1930 e 1980, deixou de acontecer.
Entre 1930 e 1990 o Brasil foi governado por uma coalizão de classes desenvolvimentista e nacionalista formada por empresários, trabalhadores e a burocracia pública; desde 1990, está subordinada a uma coalizão liberal e dependente formada por capitalistas rentistas, financistas, classe média tradicional e interesses estrangeiros.
Os governos liberais de Collor e de Cardoso instalaram no país o atual regime de política econômica liberal; os governos petistas de Lula e Dilma tentaram mudar este quadro, mas fracassaram; lograram apenas uma melhoria na distribuição de renda.
Em 1990, com a abertura comercial e a desmontagem do mecanismo que mantinha a taxa de câmbio competitiva, as empresas industriais deixaram de poder competir internacionalmente e desencadeou-se um processo de desindustrialização e baixo crescimento.
Não bastasse essa nova dependência, depois de muitos anos de autonomia nacional, o sistema eleitoral proporcional de listas abertas encareceu brutalmente as campanhas políticas, e levou os políticos a mergulharem em um sistema político-empresarial de corrupção de grandes proporções.
Para completar, dada a incompetência demonstrada pela presidente Dilma Rousseff e o autoritarismo das elites econômicas oligárquico-liberais, em 2016 um golpe de Estado feriu a democracia brasileira, ao mesmo tempo em que entregou o país a uma quadrilha encastelada no Palácio do Planalto.
Que dizem os brasileiros disso tudo? Estão envergonhados, profundamente envergonhados. Segundo pesquisa do Datafolha, 47% dos entrevistados têm mais vergonha do que orgulho de serem brasileiros. Houve um aumento brusco desse sentimento que, em dezembro passado, já atingia um número elevado, 28% dos brasileiros.
Nunca, repito, a nação brasileira esteve tão fraca e dividida; nunca o liberalismo e a dependência pesaram tanto quanto hoje; nunca tantos brasileiros foram desempregados; nunca estiveram tão sem perspectivas, tanto à direita quanto à esquerda. Nunca foi mais importante que repensemos nossa vida social, recuperemos nossa autonomia nacional, e construamos um projeto de nação independente, democrático, desenvolvimentista, social e ambiental.
Publicado no Facebook de Bresser Pereira.
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