Para o professor, que é considerado um dos mais renomados especialistas em relações exteriores do país, o alinhamento automático com os Estados Unidos é comparável ao que o Brasil viveu no mandato do general Castelo Branco, no período da ditadura militar, em 1964.
Segundo ele, "a experiência histórica mostra que quanto mais se alinha a um país mais o Brasil perde".
Pós-doutor em Relações Internacionais pela School of Oriental and African Studies da Universidade de Londres, André Reis foi professor de muitos dos diplomatas que hoje estão em Brasília ou em postos no Exterior.
Segundo ele, a nomeação de Ernesto Araújo para o cargo de chanceler significa uma quebra na hierarquizada estrutura do Itamaraty e prevê crises no horizontes. "Ele (Araújo) está seguindo a agenda de campanha de Bolsonaro. Basicamente desmonta questões estruturais da inserção do Brasil, que não são de agora, não são do governo do PT ou do PSDB. A gente não pode chamar de inflexão, é uma ruptura, uma mudança drástica, uma reorientação da política externa brasileira que não se via há muitas décadas/', disse.]
Para ele, a agenda imposta pelo novo governo é isolacionista e "vai comer o Brasil". "Daqui a pouco vai querer brigar com os chineses? Às vezes, o que é bom para os EUA não é bom para o Brasil. Uma coisa é os EUA entrarem em guerra comercial, eles têm muito mais peso e condições. O Brasil, não. Imagina entrarmos em guerra comercial com a China ou sair brigando com os russos, implicar com os africanos, meter a mão com os árabes. O tempo da política externa não é o tempo da política interna. você trabalha com com prazos mais dilatados. Às vezes, se constrói um projeto para ser aproveitado ou não por outro governo. O que tu fazes agora repercute daqui 10, 20 anos", advertiu.
Ainda sobre o alinhamento com os EUA, André Reis diz que a expectativa de que o Brasil colha frutos dessa posição pode não surtir efeito. "Nosso tamanho, gigantismo, interesses múltiplos e universais não permitem alinhamento automático nem com os EUA nem com China nem com nenhum outro. A tradição diplomática do Brasil não é de agora, não é de Lula ou de Fernando Henrique Cardoso. Remonta até a antes de Getúlio Vargas. Sempre foi trabalhar com as várias hegemonias, de olhar o cenário internacional e buscar espaços de manobra", lembrou.
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