CELEBRAÇÃO
"Odeiam nossa mania de amar e cantar: cantem por mim", escreve Lula a Festival
Público que foi até a avenida Paulista questionou prisão política de ex-presidente
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta ao público a aos artistas que participaram do Festival Lula Livre na tarde deste domingo (16) em São Paulo. O documento, lido pelo seu neto Thiago Trindade, pediu aos presentes que não perdessem a esperança e o otimismo.
“Eles odeiam essa nossa mania de amar e cantar, mesmo em tempos de tanto ódio e tanto silêncio forçado. Eu disse que vocês seriam minha voz, minhas pernas e os meus braços. Hoje, cantem por mim e dancem por mim. Haverá um dia em que esse país haverá de ser feliz de novo”, diz trecho da carta.
A mensagem fez outras referências ao momento político pelo qual o país passa: "Cada um de vocês aqui reunidos, artistas e público, é uma semente da primavera que eles não conseguirão deter. Eles plantaram tanto ódio nesse país que amar passou a ser um verbo revolucionário. Por isso, vamos amar cada vez mais, fazer política com amor. Eles pensam que odeiam o Lula, mas odeiam o povo brasileiro".
Prisão política
A percepção coletiva da democracia brasileira em risco, principalmente por conta dos desdobramentos pós-golpe de 2016, e a indignação contra a prisão política do ex-presidente Luiz Inácio da Silva (PT), foram os principais motivos apresentados ao Brasil de Fato pelos paulistanos que estavam no Festival Lula Livre, na tarde deste domingo (16), na avenida Paulista, um dos principais centros financeiros do país.
"Lula é inocente. Não têm provas contra ele, mas mesmo assim o cara tá preso desde o dia 7 de abril", disse a auxiliar técnica Lara Souza, de 26 anos.
Para o educador e artista plástico João Belmonte, 35 anos, a prisão do ex-presidente, que teve altos índices de aprovação, colocou em prática programas sociais de grande impacto no combate à pobreza e que liderava as pesquisas de intenção de votos é um indicativo de que a democracia não está sendo respeitada. "Não dá para falar que vivemos numa democracia. O que seria a democracia, a vontade popular, foi interrompida com a prisão do Lula e essa perseguição aos movimentos populares de esquerda. Mas o povo percebeu e é por isso que o festival é importante", disse.
Apresentações
Durante os shows o público se empolgou bastante com a música e as manifestações de solidariedade ao ex-presidente. O cantor Odair José transformou a Paulista em grande coro para os seus sucessos populares. No final disse: "Um beijo para vocês e um abraço para o Lula. Lula Livre sempre".
O cantor Otto, um pouco antes de subir ao palco, afirmou que percebe um sentimento popular cada vez maior pela democracia e contra o fascismo. "É o debate que está aí na eleição. O povo sabe que não pode deixar o fascismo crescer e dominar. Tem que haver resistência. Eu mesmo fico indignado ao pensar no Lula, como cidadão, lá preso", disse o cantor.
O poeta Sérgio Vaz, idealizador do sarau Cooperifa, também demonstrou preocupação com a prisão política de Lula e os impactos dela na democracia. "Eu vim aqui não pela questão partidária, mas pela defesa da nossa democracia. Eu e muita gente que está aqui hoje. Nós lutamos porque a democracia foi arranhada, ela foi golpeada", disse.
A rapper Preta Rara fez um show impecável misturando rimas certeiras de rap, o batidão do funk e um discurso feminista. "As forças que atacam a democracia atualmente são também misóginas e racistas", disse.
O cantor Chico César lembrou de Marielle Franco, a vereadora do PSOL, durante uma improvisação no meio do clássico Mama África. Na última sexta-feira, dia 14, completou seis meses que ela foi morta a tiros no centro de Rio de Janeiro e crime continua sem solução.
No meio do público, o cineasta Cláudio Assis, dos filmes 'Amarelo Manga (2002) e A Febre do Rato (2011) fez uma análise ao Brasil de Fato sobre a prisão política e as manobras para impedir a candidatura de Lula. "Na presidência, ele fez muita coisa por muita gente, principalmente para os mais pobres. Mas ele irritou quem era contra esses avanços. É só prestar um pouco de atenção em tudo o que está acontecendo para ver que tem uma perseguição política contra ele e contra o que ele fez".
A concentração de militantes começou antes das apresentações do Festival, a partir das 11h, com o Bloco Lula Livre no vão do Masp. Assim como no domingo passado, o bloco organizado pelo Levante Popular da Juventude, une alegria, músicas animadas e muita batucada para ampliar o debate sobre os ataques à população brasileira.
No próximo domingo, o bloco Lula Livre vai se concentrar às 15h, novamente no Masp.
Edição: Rafael Tatemoto
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