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MIRELA FILGUEIRAS
Jornalista, com especialização em Teorias da Comunicação e da Imagem. Tem experiência nas áreas de webjornalismo, assessoria, rádio e televisão. Estuda as relações entre cibercultura e jornalismo
Jornalista, com especialização em Teorias da Comunicação e da Imagem. Tem experiência nas áreas de webjornalismo, assessoria, rádio e televisão. Estuda as relações entre cibercultura e jornalismo
A Lava Jato é a nova Operação Condor
Vamos partir do ensinamento de Karl Marx de que o motor da história são as lutas de classes e que seus interesses são inconciliáveis. A partir dele resta claro que a esquerda conciliadora, paz e amor, está fadada ao fracasso, pois nunca será aceita pela elite.
O Lulinha paz e amor de outrora não pode mais existir. Se o PT ganhar as eleições novamente, seja quando for, deve, antes de tudo, enfrentar o PIG (Partido da Imprensa Golpista). A lei dos meios é requisito para a democracia. Delenda Globo!
As veias abertas da América Latina
A esquerda na América Latina nunca teve paz. Governos de esquerda democraticamente eleitos foram, são e continuarão sendo derrubados. Golpes de estado marcam nossa história.
"(...) a partir de 1964 se desenvolveu, inicialmente, no Cone Sul e posteriormente em boa parte da América Latina, a proliferação de ditaduras que adotaram a Doutrina de Segurança Nacional (DSN) como referência para a compreensão da realidade com a qual se deparavam. O pioneirismo no estabelecimento dessas ditaduras civil-militares coube ao Brasil, que deu o pontapé inicial do que foi uma verdadeira onda de regimes cerceadores da limitada participação política presente naquele momento. Argentina (1966 e novamente em 1976), Chile (1973), e Uruguai (1976) sucederam o caso brasileiro. Na sequência, a quase totalidade dos países da região foi submetida a regimes autoritários, em maior ou menor grau influenciados pela DSN, com exceção de Venezuela e México." (MENDES, 2013).
Operação Condor
A operação Condor foi um sistema de troca de inteligência e de repressão militar entre as ditaduras dos países do Cone Sul, mais Bolívia e Peru. Foi financiada e tutelada pelos Estados Unidos e formalmente ratificada em 1975 no Chile.
O objetivo era perseguir, prender, torturar e matar quem se opusesse às ditaduras militares nesses países. "Estimativas menos conservadoras dão conta de que a Operação Condor teria chegado ao saldo total de 50 mil mortos, 30 mil desaparecidos e 400 mil presos." (ANGELO, 2008).
Cleonildo Cruz, historiador, cineasta e diretor do documentário Operação Condor, Verdade Inconclusa, em entrevista para Vítor Nuzzi, esclareceu as origens dessa cooperação entre assassinos.
"Apesar da oficialização da Operação Condor, a partir de 25 de novembro de 1975, essa reunião foi somente cartorial, fixação de uma data do que já existia entre as ditaduras na América Latina. Não foi o marco zero.
Na medida em que as ditaduras eram instaladas nos países, Uruguai, Brasil, Chile, Paraguai, Bolívia, Peru, os serviços de inteligência eram imbricados e passavam a trocar informações entre seus aparatos repressivos. Vejamos que a ONU admitia, em 1960, refugiados de um país latino-americano por questões políticas, quem cruzasse a fronteira não poderia ser devolvido, mas esse entendimento foi mudado em 1969, para dificultar o asilo político e facilitar a entrega dos militantes aos seus países de origem, aos seus respectivos aparatos repressivos para serem assassinados. Nos documentos descobertos do arquivo do terror, em 1992, Assunção, no Paraguai, estão documentadas várias ações bilaterais antes mesmo de 1975. A partir de 1975, o intercâmbio de informações pelas embaixadas foi realizado por um sistema informatizado criptografado, conhecido como Condortel, que facilitou as trocas de informações e realização das operações de prisão, tortura, troca de prisioneiros e tendo o total apoio dos Estados Unidos." (NUZZI, 2017).
Lava Jato, a nova Operação Condor
Novamente os governos de esquerda da América Latina sofrem golpes de estado. A Operação Lava Jato, iniciada no Brasil, agora se espalha pela América Latina perseguindo e derrubando líderes de esquerda.
No Brasil, Lula está preso por "ato de ofício indeterminado" e Dilma sofreu um golpe de estado "num grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo".
Na Argentina, cadernos de um ex-motorista são considerados "provas" contra a ex-presidenta Cristina Kirchner, que levou a cabo a lei dos meios acabando com o monopólio do grupo Clarín.
No Chile, a ex-presidenta Michelle Bachelet, enfrentou uma queda na popularidade após acusações de corrupção envolvendo o filho e a nora e não elegeu um sucessor.
Mas Michelle Bachelet é um caso à parte, ela não enfrenta nenhuma perseguição judicial e hoje ocupa o cargo de alta comissária de direitos humanos na ONU (Organização das Nações Unidas).
Coincidentemente, em janeiro deste ano, uma reportagem do The Wall Street Journal (WSJ) divulgou que "O economia-chefe do Banco Mundial, Paul Romer, reconheceu ao jornal que o organismo financeiro, oficialmente subordinado às Nações Unidas, alterou seu ranking de competitividade empresarial e prejudicou o Chile – e, mais especificamente, Michelle Bachelet. Trata-se do relatório Doing Business, em que a posição do Chile caiu constantemente durante o mandato da socialista (2006-2010),subiu no Governo de direita de Sebastián Piñera (2010-2014) e voltou a cair quando a médica assumiu um novo mandato (2014-2018). Nesses 12 anos, o Chile flutuou entre o posto 25 e o 57." (MONTES, 2018).
No Peru, o ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski (PPK), foi preso sob acusação de ter recebido pouco menos de 800 mil dólares da construtora brasileira Oderbrecht por serviços de consultoria enquanto não ocupava nenhum cargo público. Outro ex-presidente, Ollanta Humala, também foi preso pela 'Comissión Lava Jato' acusado de receber US$ 3 milhões de caixa dois da Odebrecht.
No Uruguai, em 2016 (ano do Golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff) a Câmara dos Deputados do Uruguai aprovou a abertura de uma comissão de inquérito para investigar suposto caso de corrupção envolvendo o então presidente José Mujica e a empreiteira brasileira OAS. Em 2017, o então vice-presidente Raúl Sendic foi acusado de usar cartões corporativos e de afirmar ter um título acadêmico que não possuiria. O resultado foi a renúncia de Sendic.
Fernando Lugo, em 2008, quebrou a hegemonia do conservador Partido Colorado que há 60 anos, sendo 35 de ditadura, governava o Paraguai. Mas durou pouco, em 2012 o Partido Liberal, então da base governista, deu um golpe no ex-presidente e retirou seu apoio ao governo, tomou o poder e processou o impeachment de Lugo em apenas dois dias. Desde então o partido Colorado voltou a ganhar as eleições.
Em abril deste ano, Evo Morales, presidente da Bolívia, divulgou a realização de uma investigação feita pelo parlamento boliviano sobre a Odebrecht. Desdobramentos são aguardados.
Rafael Correa, ex-presidente do Equador, teve sua prisão preventiva decretada sob acusação de envolvimento no sequestro de Fernando Balda, ex-deputado da oposição, em 2012 na Colômbia. Durante seu mandato, Rafael Correa realizou uma auditoria da dívida externa e reduziu em 70% a dívida equatoriana, o que possibilitou ao país triplicar seus investimentos sociais.
Na Colômbia o ex-presidente Ernesto Samper, atual secretário-geral da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), afirmou, em entrevista à BBC Brasil, ser "preocupante juízes que fazem política abertamente".
"'Não só no Brasil, mas no resto da região, temos visto juízes e promotores que viraram estrelas e se prestam à judicialização da política. Atuam politicamente mas sem responsabilidade política. E de alguma maneira afetam a governabilidade democrática'", diz Samper." (CARMO, 2016).
Samper, que visitou Lula neste ano, enfrentou em 1996 acusações do Procurador-Geral da Colômbia de ter recebido dinheiro do cartel de Cali. Desde 1998 as eleições ficam com homens de direita, dentre eles, Juan Manuel Santos acusado por Nicolás Maduro de ter planejado o mais recente atentado contra sua vida.
A Venezuela merece um texto à parte. Ele está em construção...
"Cámpora no governo, Perón no poder"
É certo que Lula não será o cabeça de chapa do PT. Ele mesmo já disse: "Não iam dar o golpe para me deixarem ser candidato". A pergunta que fica é se teremos uma chapa do PT nas eleições para presidente.
A estratégia Haddad é Lula baseada na vitoriosa campanha "Cámpora no governo, Perón no poder" já provou ser acertada: "31% dos eleitores votariam em um candidato escolhido por Lula – o que daria a Haddad alto potencial eleitoral." (BRASIL247, 2018).
Mas o que é a nossa alegria também é a nossa preocupação, porque os golpistas já perceberam que irão perder a quinta eleição seguida. E nesse jogo de cartas marcadas quemmuda as regras a cada jogada são os golpistas de toga. Isso significa que o PT corre sérios riscos de ficar fora das eleições.
"Se Lula for considerado inelegível antes do dia 17 de setembro, que é o prazo final para partidos trocarem seus candidatos, a tendência é que o PT indique o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad para assumir o lugar de Lula. Por enquanto, ele foi registrado como candidato a vice-presidente e está atuando também como coordenador e porta-voz de Lula na campanha. Caso esse cenário se confirme, a deputada estadual do PCdoB Manuela d'Ávila completará a chapa.
Mas, se o processo não for concluído até 17 de setembro, o PT vai ter que escolher entre indicar outro concorrente ou arriscar manter o ex-presidente na disputa, mesmo ele podendo ser barrado mais à frente, o que deixaria o partido fora da eleição presidencial." (Schreiber, 2018).
Essa é uma possibilidade já prevista em lei, mas e as "inovações legislativas" do judiciário? E as denúncias midiáticas do MP?
PT fora das eleições
Hoje mesmo o Ministério Público de São Paulo ingressou com uma ação de improbidade administrativa contra Fernando Haddad. A acusação é de enriquecimento ilícito e é baseada em, vejam só que novidade: delações.
Essa é a manobra do dia para tirar Haddad, e consequentemente o PT, das eleições. Virão outras.
Referências:
ANGELO, Vitor Amorim de. Operação Condor: Ditaduras se uniram para perseguir adversários. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/operacao-condor-ditaduras-se-uniram-para-perseguir-adversarios.htm?cmpid=copiaecola>. Acesso em: 26 ago. 2018.
BRASIL247. Datafolha coloca lula ainda mais líder: 39%. Disponível em: <https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/366054/Datafolha-coloca-Lula-ainda-mais-l%C3%ADder-39.htm>. Acesso em: 26 ago. 2018.
CARMO, Márcia. 'É preocupante juízes fazendo política abertamente', diz secretário-geral da Unasul. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-38082616>. Acesso em: 26 ago. 2018.
MENDES, Ricardo Antonio Souza. Ditaduras civil-militares no Cone Sul e a Doutrina de Segurança Nacional – algumas considerações sobre a Historiografia. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 5, n. 10, a. 2013. p. 06 – 38.
MONTES, Rócio. Banco Mundial admite que manipulou dados sobre o Chile contra o Governo de Bachelet. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/14/economia/1515899491_574904.html>. Acesso em: 26 ago. 2018.
NUZZI, Vítor. Operação Condor: seis países, várias línguas e uma só dor. Disponível em: <https://www.redebrasilatual.com.br/revistas/126/operacao-condor-seis-paises-varias-linguas-e-uma-so-dor>. Acesso em: 26 ago. 2018.
SCHREIBER, Mariana. O que acontece se a candidatura de Lula for definitivamente negada. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45229460>. Acesso em: 26 ago. 2018.
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