Por Emir Sader
Via Brasil 247
Estão estreitamente associados o impeachment que derrubou uma presidente democraticamente reeleita pelo voto popular - sem nenhum argumento jurídico que o justificasse, - e a colocação em prática de uma política econômica desastrosa para o país. Sem aquele, esta não seria possível, porque os que a propuseram nos processos eleitorais foram sucessivamente derrotados quatro vezes.
O período mais virtuoso da história brasileira, em que houve desenvolvimento econômico e distribuição de renda, democracia politica e soberania externa, combinou a democracia com a unidade nacional em torno de objetivos econômicos e sociais. O período catastrófico que se seguiu rompeu com a democracia e jogou o pais à beira do caos.
Não haverá resgate do Brasil sem o retorno da democracia. Enquanto o líder político mais popular que o país já teve siga sendo perseguido, preso, condenado, não haverá democracia e não haverá retomada do crescimento econômico. Quanto mais se intensificam os processos de judicialização da política, de expropriação do direito do povo de decidir livremente sobre os destinos do pais, votando em quem prefira, maior o desastre para o pais.
Governam para o 1% mais rico, para o capital especulativo, que não produz nem bens, nem empregos. Um capital financeiro que não financia a produção, o consumo ou a pesquisa, mas que vive da venda e compra de papeis, do rentismo. Que concentra renda, com vergonhosos balanços dos bancos privados que revelam onde está o dinheiro que falta na produção. Está na especulação financeira, na sonegação, nos paraísos fiscais. Dinheiro há, só que está na mãos de quem vive da especulação.
Todo grande grupo econômico tem, à sua cabeça, um conglomerado financeiro, que canaliza os recursos conforme a rentabilidade. E na etapa atual do capitalismo, se ganha mais na especulação do que na produção, se paga menos impostos, se dispõe de uma liquidez quase que absoluta.
Sem romper com a espinha dorsal do capital financeiro na sua modalidade especulativa, não haverá retomada do desenvolvimento econômico. E para tanto, é indispensável colocar nas mãos do povo a decisão do tipo de governo e de politicas que ele quer e precisa. Hoje uma minoria irrisória decide, com executivos dos bancos privados dirigindo diretamente a política econômica, os destinos da economia do pais. Foram colocados lá não pela decisão democrática do povo, mas por um golpe, contra a vontade manifesta pelo povo, nas eleições, desde 2002.
O resgate da democracia requer, entre outros requisitos, a livre disputa por todos os candidatos à eleição presidencial, sem exclusões. Não são juízes, sem mandato popular, nem a polícia, que devem decidir quem pode e quem não pode ser candidato. É o povo quem deve decidir. E o povo tem preferências claras. Nenhum candidato identificado com o governo que surgiu do impeachment e que coloca em pratica políticas radicalmente antidemocráticas, antissociais e antinacionais, tem chances de ganhar as próximas eleições. Daí as ameaças contra o caráter livre dessas eleições, até mesmo contra sua realização.
Não haverá democracia, nem retomada do desenvolvimento econômico, com perseguição política a líderes a quem o povo mostra preferência e que se propõem a retomar políticas que já demonstraram seu potencial de combate às desigualdades, à pobreza e à exclusão social. Só a democracia plena, com eleições livres, resgatará o país da pior, mais prolongada e profunda crise da sua história.
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