A lei é para todos: enquanto Boff foi posto para fora da PF em Curitiba, a equipe do filme da Lava Jato fez a festa no prédio. Por Kiko Nogueira
A lei é para todos: enquanto Boff foi posto para fora da PF em Curitiba, a equipe do filme da Lava Jato fez a festa no prédio
A cena de Leonardo Boff na Polícia Federal em Curitiba entra para qualquer antologia do abuso de poder.
Aos 80 anos, o teólogo foi colocado do lado de fora de uma guarita, numa cadeira vagabunda, com sua bengala, aguardando uma visita que não ocorreria.
“Eu que sou velho amigo de Lula vim em uma missão espiritual. Como uma lei divina pode ser negada por uma juíza terrena?”, questionou.
Boff reclamou do tratamento. Não o deixaram entrar nem sequer na área da recepção (algo que não aconteceu com o Nobel Pérez Esquivel).
Carregava dois livros para o amigo, um deles “A Missão do Povo Que Sofre”, de Carlos Mesters.
“Não é fácil alguém acostumado com as multidões estar entre quatro paredes”, afirmou.
“Deus está sempre do lado da justiça e contra aqueles iníquos que penalizam os pobres, que não guardam a ética mínima do juiz, que é a equidade, a imparcialidade”.
É certo que a PF está cumprindo ordens da juíza que cuida da execução penal do caso, Carolina Lebbos.
Mas a animosidade é seletiva e fora do padrão.
Em novembro de 2016, a PF fechou suas portas para os mortais e as abriu apenas para a equipe do famoso filme da Lava Jato.
Cerca de 250 pessoas, entre produtores e figurantes, passearam tranquilamente entre as instalações.
O elenco conversou com delegados, investigadores e procuradores.
Oficialmente, o expediente tinha sido suspenso para “serviços de manutenção predial e no-break”.
Mentira.
“Com todas essas câmeras, quem vai acreditar que é manutenção? Só se for manutenção de câmera”, disse uma vendedora ambulante para a Folha.
A retirada de passaporte e o atendimento a estrangeiros foram cancelados.
A advogada Ivete Caribé da Rocha não pôde cuidar do processo de dois haitianos presos. “Foi um absurdo”, conta.
A festa da uva foi retratada pelos atores e atrizes.
Antonio Calloni, que fez o papel de alguém que ninguém sabe mais quem é, postou uma selfie com o crachá da corporação.
Deixou um recado esfuziante no Instagram:
“Ensaiando com Bruce Gomlevsky e Flávia Alessandra. E com os delegados da Polícia Federal, Igor Romário de Paula e Márcio Adriano Anselmo — sede da Polícia Federal em Curitiba. Filme sobre os bastidores da operação Lava-Jato. BOM DIA!”
A lei é para todos.
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