LAMBANÇA
Senadores rejeitam elogios de Ana Amélia a agressores da caravana de Lula
Senadora pede que não a façam de "bode expiatório" e se diz arrependida. Parlamentares repudiam atentado e defendem política feita com "debate de ideias"
por Hylda Cavalcanti, da RBA
WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO/ ARQUIVO ABR
Ana Amélia e Lindbergh: constrangimento por apoiar violência e rejeição a práticas fascistas contra caravana
Brasília – Diante da indignação provocada pelo atentado a tiros ao ônibus da caravana do ex-presidente Lula no Sul do país, a senadora Ana Amélia(PP-RS) subiu ao plenário hoje (28), em tom constrangido, para tentar se justificar. Recentemente, ela parabenizou os gaúchos por terem adotado reações agressivas contra os militantes do PT. Ana Amélia, que já tinha sido acusada por colegas petistas de ter incitado e elogiado a violência e os atos de agressão, nesta quarta-feira adotou um tom de arrependimento.
Disse que as palavras que usou foram “força de expressão” e pediu para não ser o “bode expiatório” de tudo o que aconteceu nas últimas 24 horas. “Quando me referi aos gaúchos, usei força de expressão, porque estava participando de uma convenção do meu partido e a caravana estava passando pelo Rio Grande do Sul. Eu condeno qualquer tipo de violência”, justificou-se.
No mesmo tom em que pediu para ser compreendida Ana Amélia disse que quando deu declaração falando sobre rejeições à caravana, tentou passar o recado de que esses episódios refletiam a insatisfação da população com os governos do PT, mas só isso.
“Acho que tiros não podem, nem devem ser dados em ninguém. Nem no meu adversário nem no meu aliado. A minha coligação é com a sociedade brasileira, que me conhece”, destacou.
Apesar do modo bem mais brando de falar, ela não fez menção direta ao fato de, durante seu discurso, ter dito que gostaria de parabenizar os que “botaram para correr aquele povo” e que “atirar ovo e levantar o relho contra a caravana mostra onde estão os gaúchos”, referindo-se aos integrantes da caravana.
Ana Amélia, no sábado e ontem
“Estou sendo usada como bode expiatório, mas quem fará meu julgamento serão os eleitores do Rio Grande do Sul e a sociedade que acompanha meu desempenho nesta Casa”, afirmou ainda a senadora.
A fala de Ana Amélia foi repudiada com firmeza, principalmente, pelo líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ), que chamou o seu discurso de “prática fascista”. “Você pode discordar do PT, discordar de Lula e Dilma. Mas não dá para concordar com isso. As palavras da senadora não foram as que se fala num discurso, foram agressões, práticas fascistas”, acusou Lindbergh.
De acordo com o líder “não se trata mais de criticar um discurso”. “Não é mais o discurso do ódio e intolerância. São milícias armadas seguindo o presidente Lula. Esses fatos não têm paralelo na história recente do País”, disse.
Outra senadora que reclamou da postura de Ana Amélia foi a presidenta da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, Regina Sousa (PT-PI). Segundo Regina, “o mais grave de tudo foi ver uma parlamentar, senadora da República, defendendo atos de barbárie”.
'Pessoas são incentivadas'
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) também reagiu com indignação em relação a tudo o que aconteceu, em especial o episódio de ontem. “No primeiro dia, foi ovo; no segundo dia, foi pedra; no terceiro dia, foi barra de ferro; e agora, arma de fogo, tiro, contra o ônibus do presidente Lula. E por que muitas vezes as pessoas se sentem livres, se sentem à vontade para praticar esses atos de violência? Porque elas são incentivadas para fazer isso", destacou.
“Há uma parte da população que defende o presidente Lula e uma parte que é contra. Agora, essa parte que é contra não tem o direito de fazer o que está fazendo, e muito menos os senhores senadores ou as senhoras senadoras não têm o direito de subir na tribuna e aplaudir atitudes violentas como essa, porque aplaudir atitudes violentas é um incentivo ao crime, é um incentivo ainda maior à violência”, disse Vanessa, numa reação a Ana Amélia.
Desde a noite de ontem que parlamentares de diversos partidos têm procurado manifestar preocupação com os participantes da caravana e o caráter agressivo dos atos de violência. O senador tucano Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) declarou que repudia o que aconteceu e que, a seu ver, esses episódios “não são próprios de uma democracia civilizada e devem ser repudiados”. Mas, ao estilo de vários integrantes do seu partido, acrescentou logo depois que “infelizmente há precedentes de incitamento à violência”.
Os deputados Maria do Rosário (PT-RS) e Wadih Damous (PT-RJ) entregaram um documento ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pedindo para que a Casa combata o ódio contra a vida política, inclusive porque integram a caravana vários deputados federais. Ouviram de Maia que o que aconteceu foi “de uma gravidade extrema”. “Considero o ponto final de alguns dias de absurdos, que inviabilizará a mobilização do ex-presidente Lula, legítima e democrática”, disse o presidente.
Eles também mantiveram contato com o ministro de Segurança Pública, Raul Jungmann, que já tinha sido procurado para tratar do assunto pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS), um dos integrantes da caravana. Jungmann repudiou o que aconteceu, mas contou que entrou em contato com a secretaria estadual de segurança pública do Paraná e pediu a ajuda policial daquele estado.
Maria do Rosário solicitou a federalização das investigações contra o ataque e lembrou que, desde a última semana, o governo federal, por meio desse contato feito anteriormente por integrantes da caravana, já estava sabendo das agressões que vinham acontecendo, sem que nada tivesse sido providenciado.
'Paus, pedras e tiros'
O deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), tido como o decano da Câmara, fez um apelo durante discurso no plenário para que as pessoas impeçam o que chamou de ataques à democracia no país. “Por favor, parem com isso! Permitam o debate livre das ideias. Não é possível que o nosso país termine resolvendo as coisas na bala, no meio da rua!”, afirmou Teixeira.
O deputado Cabo Sabino (Avante-CE) destacou que não será “com paus, pedras, tiros e intolerância que vamos construir um Brasil melhor”. “O direito de falar, de votar, de colocar o que se pensa em debate é a maior conquista que temos. Vamos pensar mais nisso”, pediu, ao repudiar o atentado.
O líder da minoria no Senado, Humberto Costa (PT-PE), divulgou nota afirmando considerar “inconcebível, nos tempos de hoje, que cenas como apedrejamento e açoitamento de participantes de um ato político, em alguns locais, com a conivência de forças policiais que nada fizeram para impedir a horda de nazifascistas”.
De acordo com Costa “este não é o Brasil que conhecemos, nem o Brasil que nós procuramos o tempo inteiro construir, de uma maneira em que os conflitos, as divergências e as ideias possam ser tratadas no campo do debate”.
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