CARAVANA NO SUL
Gleisi: 'Quem enfrentou a ditadura não tem medo de agroboys'
Na histórica cidade de São Borja, agressores tentaram impedir entrada de ônibus na cidade com pedras e ovos. "Não tentem mandar a Justiça me proibir de ser candidato", disse Lula em ato
por Redação RBA publicado 21/03/2018 19h17, última modificação 21/03/2018 19h30
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Para presidenta do PT, agressores que tentaram impedir ônibus da caravana "não sabem conviver com o diferente"
São Paulo – A Caravana Lula pelo Brasil esteve na tarde desta quarta-feira (21) em São Borja, cidade onde estão os túmulos de Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola. Antes do ônibus chegar ao município, algumas pessoas jogaram pedras e ovos no veículo, tentando impedir a entrada da comitiva.
Durante o ato realizado na cidade, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, fez referência a essa e outras agressões sofridas durante a passagem da caravana no Rio Grande do Sul. "Essa gente que sobe nos tratores, que faz um discurso moralista e chama nosso presidente de ladrão, é da mesma espécie de Carlos Lacerda, que levou Getúlio ao suicídio. Deveriam se envergonhar do que estão fazendo", apontou. "Essa gente é ignorante e antidemocrática e não sabe conviver com o diferente. Mas nós não temos medo, quem enfrentou a ditadura não tem medo de agroboys."
Em seu discurso, o ex-governador gaúcho Olívio Dutra lembrou que Vargas também foi acusado de ter um governo inundado por "um mar de corrupção" quando enfrentava as oligarquias do país, enquanto se dizia que João Goulart queria fazer do Brasil uma "federação sindical", traçando um paralelo com o cenário político atual. "Essas acusações estão sendo repetidas por aqueles que querem fazer a história do Brasil voltar para trás."
Em seu discurso, o ex-governador gaúcho Olívio Dutra lembrou que Vargas também foi acusado de ter um governo inundado por "um mar de corrupção" quando enfrentava as oligarquias do país, enquanto se dizia que João Goulart queria fazer do Brasil uma "federação sindical", traçando um paralelo com o cenário político atual. "Essas acusações estão sendo repetidas por aqueles que querem fazer a história do Brasil voltar para trás."
"Os que hoje dão um golpe na democracia ao derrubar uma presidenta justa, correta e incorruptível como a Dilma e querem impedir o direito legítimo e certo de um inocente, vítima da mentira, o companheiro Lula de ser candidato à presidência da República, estão enxovalhando a rica história de São Borja. Não representam a cidade, o Rio Grande e nem o povo brasileiro", afirmou. "Eles querem uma democracia restrita, sem o povo votar, querem decidir no tapetão quem vai ser candidato à presidência da República. A luta pela democracia é de cada um e de todos nós no cotidiano."
A ex-presidenta Dilma Rousseff repudiou os atos violentos contra a caravana. "Temos que denunciar esse tipo de prática, de atitude que instiga o ódio, cria divisão", defendeu, exaltando a riqueza da história local. "Aqui é uma terra de heróis, o povo precisa de heróis e nós temos. Aqui está nosso inesquecível presidente Getúlio Vargas, João Goulart e Brizola, três gaúchos que pensaram o Rio Grande, mas também pensaram o Brasil", pontuou.
A ex-presidenta Dilma Rousseff repudiou os atos violentos contra a caravana. "Temos que denunciar esse tipo de prática, de atitude que instiga o ódio, cria divisão", defendeu, exaltando a riqueza da história local. "Aqui é uma terra de heróis, o povo precisa de heróis e nós temos. Aqui está nosso inesquecível presidente Getúlio Vargas, João Goulart e Brizola, três gaúchos que pensaram o Rio Grande, mas também pensaram o Brasil", pontuou.
Ao iniciar sua fala, Lula recordou da primeira vez em que esteve no estado, em 1975, pouco depois de ter sido eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, quando Olívio Dutra também havia sido escolhido para presidir o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre. Ele também justificou a escolha de visitar São Borja.
"Se estivesse pensando do ponto de vista eleitoral, não viria para essa região que é de baixa densidade demográfica. Tem mais gente na grande Porto Alegre. Vim aqui por uma coisa muito simples: começamos a ganhar direitos e deixar de ser escravos com Getúlio Vargas. Foi ele que em 1932 criou a carteira profissional e em 1943 a Consolidação das Leis do Trabalho. Naquele tempo, o trabalhador não tinha férias, e quando na Constituinte de 1934 se propôs 10 dias de férias, os empresários diziam que era perigoso por que o ócio faz mal ao trabalhador. Desde quando férias para o trabalhador faz mal e para eles faz bem?", questionou.
Assim como Gleisi e Dilma, ele condenou as agressões. "A gente não esperava que fosse haver fascistas que resolvessem tomar a atitude de tentar proibir Lula e o PT de entrar em São Borja", destacou o ex-presidente. "Queríamos fazer um gesto simbólico e de repente vejo o povo assustado, com eles atirando pedras no ônibus, carro apreendido cheio de bombas e rojão."
Lula ressaltou em seu discurso a importância da herança varguista. "Fernando Henrique Cardoso foi eleito em 1994 e anunciou que iria acabar com a Era Vargas, ou seja, acabar com os direitos dos trabalhadores conquistados em 1943, e ele não teve coragem para mexer nos direitos trabalhistas por que o povo não aceitava", lembrou. "Deram o golpe na Dilma, conseguiram maioria no Congresso Nacional e resolveram acabar, por interesse do empresariado brasileiro e com certeza também do empresariado de São Borja, com os direitos dos trabalhadores. E querem acabar com a aposentadoria."
O ex-presidente reafirmou ainda que pretende federalizar o ensino médio e isentar quem ganha até cinco salários mínimos de pagar imposto de renda, caso seja eleito. "Vamos lutar para acabar com a PEC que limita os gastos na educação e na saúde por que gasto em educação não é gasto, é investimento."
Ao fim, o ex-presidente homenageou o público que esteve presente mesmo com a atitude agressiva da parte de manifestantes contrários. "Quero agradecer por vocês não terem entrado na guerra que parte da elite da região tentou fazer contra nós", afirmou, conclamando seus adversários mais uma vez a enfrentá-lo nas urnas em outubro."Não tentem arrumar subterfúgio e mandar a Justiça me proibir de ser candidato. Tem uma coisa que minha mãe ensinou, que é respeitar os outros, mas não respeito a decisão que tomaram contra mim, o inquérito mentiroso da Polícia Federal, a denúncia mentirosa do Ministério Público, a sentença mentirosa do Sérgio Moro e do TRF4", disse o ex-presidente.
Ao fim, o ex-presidente homenageou o público que esteve presente mesmo com a atitude agressiva da parte de manifestantes contrários. "Quero agradecer por vocês não terem entrado na guerra que parte da elite da região tentou fazer contra nós", afirmou, conclamando seus adversários mais uma vez a enfrentá-lo nas urnas em outubro."Não tentem arrumar subterfúgio e mandar a Justiça me proibir de ser candidato. Tem uma coisa que minha mãe ensinou, que é respeitar os outros, mas não respeito a decisão que tomaram contra mim, o inquérito mentiroso da Polícia Federal, a denúncia mentirosa do Ministério Público, a sentença mentirosa do Sérgio Moro e do TRF4", disse o ex-presidente.
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Getúlio, Jango, Brizola, trabalhadores e forças ocultas
São Borja é berço de dois presidentes que entraram para a história por introduzir no país, um conceito de Estado de bem-estar social por meio do trabalho. Getúlio Vargas e João Goulart entraram também para história por confrontarem, com isso, os interesses de uma elite não habituada a dividir o bolo. Com seu suicídio, em 1954, Vargas conseguiu adiar em uma década o golpe. O governo de Jango acabou sendo a vítima em 1964 dessa elite que instalou a ditadura que duraria 21 anos.
Leonel Brizola nasceu um pouco mais ao norte do Rio Grande, em Carazinho. Mas, por sua identidade com o trabalhismo dos conterrâneos, tem seu corpo sepultado na mesma cidade que ambos. Brizola sobreviveria ao golpe de 1964, depois de promover a resistência que o conteve em 1961, com sua rede da legalidade para viabilizar a posse de Jango, após renúncia de Jânio Quadros.
Jânio alegava, então, que “forças ocultas” o impediam de prosseguir. E eis que elas estão aí de novo, as tais “forças ocultas”, tentando deter a escalada do presidente mais popular da história de volta ao Palácio do Planalto. Não foi à toa, portanto, que São Borja entrou no roteiro da Caravana Lula pelo Brasil. A Revista do Brasil tem algumas reportagens históricas que ajudam a entender o papel desses personagens do século 20, e sua relação com o golpe de agora.
1. Em entrevista a Flávio Aguiar, o professor da USP Alfredo Bosi explica como a legislação trabalhista legada por Vargas deve ser entendida por seu teor positivista, e não fascista, como até mesmo parte da esquerda alegava. A CLT modernizou as relações no mundo civilizado ao incorporar necessidades dos trabalhadores e impediu o colapso social até mesmo nas grandes crises do Primeiro Mundo.
2. O documentarista Eduardo Escorel levou mais de duas décadas garimpando imagens, documentos e depoimentos para explicar as várias fases de Getúlio Vargas na história do Brasil. O resultado é uma coleção primorosa, em três volumes, lançados em DVD, que valem a pena ter na estante. Saiba mais sobre essa obra.
3. O Rio Grande do Sul é terra conhecida pela eclosão de revoltas, muitas interferiram na formação da identidade elitista do estado. Outras, como a Rede da Legalidade liderada por Brizola em 1961, defenderam a democracia e o respeito às regras do jogo. Conceitos que a elite econômica não costuma levar em conta quando é incomodada.
4. Depois do golpe que o destituiu em 1964, Jango se manteve no exílio e ensaiou ao lado de políticos com identidades distintas – Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda – a formação de uma frente de resistência e pela retomada da democracia. Todos morreram em circunstâncias misteriosas. Jango, até hoje, representa um enigma político, como define seu filho João Vicente, nesta histórica entrevista a Vitor Nuzzi.
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