"Destino manifesto": Democracia como dissonância cognitiva*
Manifest Destiny: Democracy as Cognitive Dissonance
14/3/2018, F.W. Engdahl (em Greanville Post)
Caros leitores,
Para minha alegria, apenas em uns poucos dias, o livro já está chegando aos primeiros lugares entre os mais vendidos em algumas categorias.
Nesse livro – Manifest Destiny: Democracy as Cognitive Dissonance – exponho e comento o papel clandestino de ONGs mantidas por Washington para, sob uma fachada de democracia, avançar sobre e derrubar governos que não mostrem interesse por implantar a agenda de Washington.
Ao longo dos últimos mais de 30 anos, agências de inteligência em Washington desenvolveram e refinaram técnicas para destruir praticamente qualquer governo que faça séria oposição às políticas dos EUA, servindo-se para tanto de Organizações Não Governamentais do tipo de NED, Open Society Foundations, Freedom House, Albert Einstein Institution.
O colapso da União Soviética e os devastadores 'anos Iéltsin', na década de 1990s, a guerra para destruir a Iugoslávia e o atentado fracassado na Praça Tiananmen na China em 1989 foram eventos, todos esses, orquestrados e comandados pela CIA e pelo Departamento de Estado dos EUA. Quem se interessar pelo cenário profundo de recentes eventos no mundo – 'primavera árabe', guerra na Síria, golpe norte-americano na Ucrânia [e golpe contra o governo eleito da presidenta Rousseff no Brasil], encontrará informação bastante útil nesse livro.
Hoje partilho com vocês o Prefácio e um sumário detalhado, para que todos saibam o que há no livro. Tenho certeza de que ninguém não perderá tempo nem dinheiro, se ler meu livro.
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Prefácio"Destino manifesto": Democracia como dissonância cognitiva
F.W. Engdahl, 2018, mine.Books, Wiesbaden, Alemanha (ing.)
F.W. Engdahl, 2018, mine.Books, Wiesbaden, Alemanha (ing.)
Destruir nações, em nome da democracia
Em 1945, o escritor e crítico da sociedade britânica George Orwell escreveu um livro intitulado 1984 sobre uma sociedade totalitária fictícia. O livro, um dos maiores sucessos editoriais da história, narra tempos pós guerra atômica, quando o mundo está dividido entre três estados. Um deles, Oceania, cuja capital é Londres, é governado por um Partido Socialista Inglês que tem controle total sobre todos os cidadãos, especialmente sobre a mente de cada um/uma. O programa central de controle sobre as mentes usado para manter os cidadãos em estado de abjeta obediência e servidão mentais é chamado, no livro de "duplipensar" [ing. doublethink].
Pelo duplipensar, as pessoas são submetidas a dois conceitos contraditórios, e têm de aceitar ambos como simultaneamente corretos, gerando o que os psicólogos chamam de dissonância cognitiva [a expressão mais adequada/correta é/deve ser "cognição dissonante" (Ver (*)]. Assim sendo, apesar de Oceania estar constantemente em guerra, os cidadãos agem como se simultaneamente vivessem também em paz. A essência do duplipensar aparece resumida por Orwell no início da narrativa: "Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é poder."
Nesse trabalho, comento o que, na verdade, é uma adaptação do duplipensar de Orwell e que se expressa com clareza em "democracia é tirania". É a crônica de uma das operações mais destrutivas e mais efetivas levadas a cabo pelos serviços de inteligência de qualquer estado moderno, incluindo a União Soviética de Stálin e até o 3º Reich de Hitler comandado por Goebbels.
É a crônica de um vasto projeto desenvolvido pelos serviços de inteligência dos EUA ao longo de décadas, que começa em maio de 1968, com as greves estudantis que derrubaram o presidente francês Charles de Gaulle, inimigo figadal da dominação norte-americana global.
A Guerra Fria entre os países da OTAN e os aliados da União Soviética durou quase meio século. Finalmente, exaurida e arruinada, a União Soviética de Mikhail Gorbachev levantou a bandeira branca da rendição, em novembro de 1989, quando Moscou admitiu que o Muro de Berlin fosse derrubado. O muro fora convertido em símbolo do que Winston Churchill, no famoso discurso de 1946 em Fulton, Missouri, chamou de "Cortina de Ferro" a dividir o Ocidente – o Mundo Livre, como a propaganda de Washington nunca se cansou de repetir – do mundo comunista dominado por Moscou.
Fora de um pequeno círculo de altos funcionários e oficiais da CIA, Departamento de Estado e Pentágono norte-americanos, além de seus aliados em seletos think tanks de Washington, como o American Enterprise Institute ou o New York Council on Foreign Relations, poucos tinham como saber que Washington preparava-se para iniciar o mais bem articulado esforço para derrubar governos nos países ex-comunistas da Europa Oriental, Ucrânia e na própria recém-constituída Federação Russa. A palavra de ordem seria a introdução de uma democracia ao estilo dos EUA, aquele tipo de democracia, aqueles direitos humanos, um chamado 'livre mercado' neoliberal. Democracia seria convertida em tirania e, em alguns casos, como na Ucrânia, seria muito pior que qualquer coisa que alguém tivesse conhecido sob o regime soviético.
As operações para mudança de regime 'gerenciadas' por Washington ficaram conhecidas como 'revoluções coloridas' de Washington, por causa da cor do logotipo que a avenida Madison criaria especialmente para cada operação de desestabilização bem-sucedida que viria e veio – Revolução Laranja na Ucrânia, Revolução Rosa na Geórgia, Revolução Verde no Irã e assim por diante. Invariavelmente o alvo era nação importante que se intrometesse, como obstáculo, no caminho do que David Rockefeller, em suas Memoirs, chamou de governo mundial; e que Bill Clinton, nos anos 1990s, chamou de "globalização corporativa", expressão tão envenenada quanto parece inocente.[1]
Na verdade, o que aquelas revoluções coloridas em Washington, intervenções para mudar regimes, representaram foi uma tentativa para substituir os líderes comunistas por capatazes que Washington escolheria a dedo entre os líderes políticos mais corrompidos por Washington, todos interessados em vender o mais rapidamente possível as joias da coroa de seus países e respectivo povo, a predadores financeiros ocidentais – como, dentre outros, o especulador bilionário George Soros.
A aura do poder norte-americano
Ironicamente, o maior desafio a ser enfrentado por Washington, o Pentágono, a CIA e os poderosos grupos dos lobbies militar-industrial e dos bancos, cujo dinheiro controla os congressistas e todos os presidentes, foi o fim da Guerra Fria ativa no final de 1989.
De repente, já não havia inimigo que justificasse a persistência dos descomunais gastos militares nos EUA, ou a existência da OTAN.
James R. Schlesinger, ex-secretário da Defesa dos EUA e ex-diretor da CIA, pintou claramente o dilema: os políticos norte-americanos devem ter bem claro na cabeça que a base para determinar a estrutura de força e os gastos militares nos EUA no futuro não deve ser buscada apenas como resposta a ameaças individuais, mas, sim, para reunir o que seja necessário para preservar a aura do poder norte-americano.[2]
Ao final dos anos 1980s, o sistema econômico e financeiro dos EUA enfrentava sua mais profunda crise desde a Grande Depressão. Os maiores bancos de Wall Street – Citigroup, Bank of America e outros – estavam tecnicamente falidos. A desregulação dos bancos de varejo nos EUA levara a uma bolha de especulação imobiliária que colapsou no final dos anos 1980s, ao mesmo tempo em que acontecia dramática queda nos preços mundiais do petróleo, o que desencadeou uma onda de falências em toda a indústria doméstica norte-americana do petróleo.
O grande desafio que crescia diante do establishment militar e de inteligência dos EUA passou a ser conseguir que os contribuintes norte-americanos continuassem a deixar queimar centenas de bilhões de seu próprio dinheiro em níveis estratosféricos de gastos com a Defesa, contra inimigo que já ninguém via. E isso sem reivindicar que o mesmo dinheiro criasse um dividendo de paz que permitisse que os mesmos bilhões fossem empregados para renovar a infraestrutura econômica dos EUA, então em rápida decadência.
Colin Powell, comandante do Estado-maior dos EUA disse a Army Times, em abril de 1991: "Pensem bem. É sério. Estou ficando sem demônios. Estou com falta de vilões... Estou reduzido a Castro e Kim Il Sung".[3]
O dilema não tardaria a ser resolvido. Em vez de confiar apenas na força militar visível para fazer avançar sua agenda global, Washington revelou uma dramática nova arma: organizações ditas democráticas, fake democracy de organizações não governamentais (ONGs) a serem usadas para, operando clandestinamente, implantar regimes pro-Washington em pontos estratégicos do mundo, depois do colapso da União Soviética.
"Liberdade democrática" seria a neobandeira que introduziria – acredite quem quiser – uma nova tirania: livres mercados, na verdade controlados por bancos internacionais de Wall Street e da Europa, e empresas multinacionais que saqueariam os vastíssimos recursos do mundo comunista então colapsado.
Direitos humanos à bala
Em vez de confronto militar exposto, os anos 1990s, com a exceção brutal da guerra de Washington contra a Iugoslávia, veriam a maior disseminação do que se convertia então numa nova arma dramaticamente efetiva, controlada pelos EUA: mudanças de regime movidas a democracia fake em todo o mundo.
ONGs ditas de 'direitos humanos', como Human Rights Watch financiada pelo especulador bilionário George Soros, Freedom House, e International Republican Institute (IRI), Anistia Internacional EUA, ou NED supostamente do governo dos EUA, mas organização privada, viriam a ser a principal arma de Washington para seus golpes para mudança de regime com o objetivo de transformar os estados ex-soviéticos da Europa Oriental recentemente então tornados independentes. Mais tarde, as 'revoluções' coloridas da democracia fake exportada pelos EUA seriam levadas à China, à Ásia Central e, mais dramaticamente aos estados ricos em petróleo do Oriente Médio, no que ficou conhecido como 'primavera árabe' [o mesmo projeto de exportação de fake democracia para países que os EUA queiram destruir, foi usado também na América Latina, que, nesse livro, o autor não estuda].
O objetivo era converter os países-alvos dos EUA em satrapias econômicas, estados vassalos dos EUA, mediante uma série de 'revoluções coloridas' para mudança de regime. Demorou um pouco antes de as nações-alvos dos ataques dos EUA perceberem o que estava sendo feito delas e de suas respectivas economias, em nome da tal exportação pelos EUA de um simulacro de democracia.
A primeira revolução colorida para implantação de simulacro de democracia por ação dos EUA teve por alvo Sloboda Milošević, presidente da ex-Iugoslávia, em seguida dividida em Serbia Vojvodina, Kosovo e Montenegro.
Começamos nossa pesquisa com análise de como nasceu a ONG em Washington, criada sem alarde pelo diretor Bill Casey, da CIA do presidente Reagan e outros, no início da década dos 1980s. Recebeu o nome de National Endowment for Democracy, NED. Essa NED teria papel central em todos os processos de desestabilização apoiada por Washington de países que trabalhassem a favor de polícias não congruentes com a ordem da neoglobalização pós-guerra-fria.
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SUMÁRIO
Prefácio: Destruir nações em nome da 'democracia' [acima traduzido]
CAPÍTULO 1: Fazer o que a CIA fez (mas no privado)
CAPÍTULO 2: Um papa, a NED e a terapia de choque na Polônia
CAPÍTULO 3: O golpe de estado de Iéltsin da CIA: o estupro da Rússia [o modelo de guerra híbrida hoje aplicado contra o Brasil, disse Pepe Escobar, é exatamente idêntico ao modelo russo: "Mas a sociedade brasileira é infinitamente mais complexa que a de qualquer dos demais países contra os quais os EUA fizeram guerra-híbrida, em formato de 'revolução colorida' para implantar democracia fake. Seja como for, estudem os anos Iéltsin! Têm tudo a ver com o Brasil do golpe" (Pepe Escobar, 26/3/2018, entrevistado por Wellington Calazans e Romulus Maia, em Duplo Expresso)].
CAPÍTULO 4: Soros e os Harvard Boys unem-se à KGB e a Iéltsin
CAPÍTULO 5: A CIA, ONGs e o mito de Tiananmen
CAPÍTULO 6: A CIA e suas ONGs desintegram a Iugoslávia
CAPÍTULO 8: Uma guerra fria que não terminou
CAPÍTULO 9: OTAN chega às portas de Moscou: revoluções coloridas na Geórgia e na Ucrânia sacodem a Rússia
CAPÍTULO 10: “Onde está o verdadeiro prêmio”
CAPÍTULO 11: Primavera árabe, dinares de ouro e guerras de energia
Posfácio: Guerras sem fim por democracia?!
Glossário
Índice remissivo
* A expressão cognitive dissonance (ing.) e dissonance cognitive (fr.) aparece, nos estudos sociais, com Franz Fanon:
"Às vezes as pessoas têm uma crença central, muito forte. Quando são confrontadas com evidências que operam contra aquela crença, é difícil para elas aceitar a nova evidência. Assim se cria um sentimento extremamente desconfortável, que se chama "cognição dissonante". E, porque lhes é muito importante proteger a crença central já existente, as pessoas racionalizam, ignoram e até negam qualquer evidência que não se encaixe naquela crença central" [Frantz Fanon, Pele negra, máscaras brancas (1963)].
Em geral a expressão aparece traduzida como "dissonância cognitiva", que é tradução semanticamente errada, uma contradição em termos: a dissonância impede ou, no mínimo, dificulta muito, de fato, qualquer cognição. Parece-nos que a única tradução q faz pleno sentido é "cognição dissonante" [NTs].
[1] David Rockefeller, Memoirs, p. 405: “Há até quem creia que nós [a família Rockefeller] somos parte de uma cabala secreta que trabalharia contra os melhores interesses dos EUA, pintando minha família e eu como 'internacionalistas' que conspirariam com outros, pelo mundo, para construir mundo integrado numa só estrutura política e econômica global – Mundo Uno, se preferirem. Se o crime é esse, declaro-me culpado e muito me orgulho.”
[2] Joe Stork, New Enemies for a New World Order, MER 176.
[3] William W. Kaufmann e John D. Steinbruner, Decisions for Defense (Washington, DC: Brookings Institution, 1991), p. 45.
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