A censura à Tuiuti, a intervenção federal e o ódio de Temer ao Rio e ao Carnaval. Por Kiko Nogueira
É difícil dissociar a açodada decisão de intervir no Rio de Janeiro da humilhação sofrida por Michel Temer no Carnaval.
A admissão do estrago causado pela Tuiuti à imagem de um governante patético, absolutamente desprezado pela população, veio na forma da censura.
De acordo com a direção da agremiação, emissários da presidência da República pediram à Liga Independente das Escolas de Samba, Liesa, que impedisse a participação do “Vampirão Neoliberalista” no desfile das campeãs, no sábado, dia 17.
Ele acabou se apresentando, mas depois de uma concessão: tirou a faixa presidencial.
Entrevistado pela Mídia Ninja pouco antes de entrar na Sapucaí, o professor de História Léo Moraes, que interpreta o personagem, foi evasivo.
Primeiro, afirmou que estava aguardando que lhe trouxessem o adereço. Depois de algumas conversas com colegas, ao pé do ouvido, afirmou que o “perdeu”.
Chegou a negar que estivesse retratando Temer e que sua fantasia “representa um sistema”.
No final, Moraes foi orientado a retirar a maquiagem rapidamente, ali mesmo na dispersão.
A motivação do decreto de Temer é eleitoreira. Ponto.
Mas não se deve subestimar o ressentimento, a raiva, a malevolência de Michel com a cidade.
“As cenas do Carnaval revelaram uma agressividade muito grande e uma desorganização social e até moral muito acentuada. As pessoas lá não têm mais limites”, falou ao amigo Reinaldo Azevedo.
Referia-se à “violência”. Mas não só. Michel odeia o Rio.
No sábado, dia seguinte à assinatura do decreto, interveio na festa, naquelas pessoas que não têm mais limites.
A história é antiga. Os sambistas incomodavam Getúlio Vargas no Estado Novo.
Em 1969, o enredo “Heróis da Liberdade”, da Império Serrano, foi censurado.
Segundo a pesquisadora Raquel Valença, os compositores Silas de Oliveira, Mano Décio e Manuel Ferreira foram chamados a depor no Dops.
O regime militar queria saber se os versos “Ao longe soldados e tambores / Alunos e professores / Acompanhados de clarim” faziam referência aos protestos estudantis.
A palavra “revolução” foi substituída por “evolução”. Em 1970, as escolas passaram a ser forçadas a enviar os croquis de fantasias e alegorias para aprovação prévia.
Noves fora tudo, Temer conseguiu, com sua tentativa de se livrar do “Vampirão” no tapetão, mais uma pecha: a de vagabundo liberticida, ruim da cabeça e doente do pé.
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