Temer entrega aviação brasileira ao Tio Sam
Escrito por Miguel do Rosário, Postado em Redação
É incrível a fúria entreguista do governo Temer, e de seus patrões no mercado financeiro, no sistema de justiça e na mídia, para entregar tudo que construímos de importante e avançado, nas últimas décadas, para interesses internacionais.
O regime de exceção implementado pelo impeachment sem crime está sendo mais nocivo ao país do que o golpe de 64.
Petrobrás, Eletrobrás, pré-sal, terras, Amazônia, engenharia, construção civil, pesquisa, mão-de-obra nacional, direitos sociais, garantias individuais, e agora a única indústria de ponta que possuíamos, no campo da aviação comercial: tudo está sendo desmontado para que o Brasil volte a ser colônia.
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(Avião comercial da linha E2 e, ao fundo, KC-390, aeronave militar com capacidade para reabastecimento em voo. Foto: Embraer/Divulgação)
A venda da Embraer representa prejuízo para o país e moeda eleitoral para Meirelles, diz historiador
POR VERÔNICA COUTO · 22 DE DEZEMBRO DE 2017
O interesse da Boeing em comprar a Embraer, oficializado nesta quinta-feira (21) pelas empresas, “causou profundo mal-estar nos setores militares do governo, que não foram avisados da existência dessas tratativas pelo Ministério da Fazenda”, afirma o historiador e ex-assessor estratégico do Ministério da Defesa, Francisco Carlos Teixeira. Segundo ele, a iniciativa tem o apoio do ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, que pretende, com a operação, compensar o mercado pela derrota sofrida na reforma da Previdência, cuja votação foi adiada por falta de apoio no Congresso, e fortalecer seu nome junto ao PSDB para a disputa à Presidência.
Além das Forças Armadas, que desenvolvem projetos militares estratégicos com a Embraer, o próprio Michel Temer teria sido pego de surpresa, diz Francisco Teixeira, que duvida que o atual comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Rossato, concorde com a transação. Para o presidente da República, a venda da empresa iria colar de forma irreversível o selo de “entreguista” à sua gestão.
O governo brasileiro detém “golden share” na Embraer, uma classe especial de ação que permite vetar decisões relacionadas à “capacitação de terceiros em tecnologia para programas militares” e à “interrupção de fornecimento de peças de manutenção e reposição de aeronaves militares”, entre outras decisões. Pode, assim, impedir a evolução das negociações com a Boeing. A nota distribuída pela duas empresas confirma “conversações a respeito de uma potencial combinação, cujas bases ainda estão em discussão”.
Coincidentemente, Meirelles já havia consultado o Tribunal de Contas da União em 19 de julho sobre abrir mão da “golden share” da Embraer, da Vale e do IRB, além de marcar seu lançamento como pré-candidato em rede nacional para o mesmo dia em que o Wall Street Journal publicava, sem a ciência do governo brasileiro, as negociações sobre a venda da empresa. A fala do ministro ocupou quase a totalidade da propaganda eleitoral do PSD, veiculada nesta quinta-feira (21). A consulta do TCU começou a ser analisada em setembro e ainda não foi respondida.
Para Francisco Teixeira, derrotado no esforço de votar a Reforma da Previdência, Meirelles precisa apresentar feitos relevantes que o credenciem como preferido do mercado financeiro para as eleições de 2018. Privatizações de fôlego também poderão cacifá-lo como liderança liberal junto ao PSDB, de modo a garanti-lo como alternativa eleitoral tucana, caso o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, seja comprometido em investigações de corrupção e se torne inelegível ou idefensável politicamente.
Para o país, a venda do poder decisório do Estado sobre a Embraer só representa prejuízos. Na opinião de Francisco Teixeira, significa a perda do controle dos projetos estratégicos para a Defesa brasileira e da capacidade de investimento em alta tecnologia nacional. “A soberania nacional ficará à mercê dos embargos do governo norte-americano”, alerta.
Além disso, não são reais os argumentos utilizados pelos que defendem a operação – de que iria criar emprego e renda no país. “Não vai; quem diz isso não está lendo nada sobre o mercado ou está de má-fe”, diz o historiador. “O governo Trump tem se caracterizado pela interiorização da produção norte-americana. Já desmontou o Nafta e obrigou a transferir para os EUA as linhas de montagem do setor automotivo que funcionavam no México. A Boeing vai pegar a expertise da Embraer e gerar empregos nos EUA.”
Fake news como arma de negócio
As pressões internacionais para a captura da Embraer começaram a ficar visíveis dias antes da sua divulgação oficial, quando viralizou nas redes um vídeo falsamente atribuído à empresa, apontando o Brasil como o lugar dos “impostos mais altos do mundo”, com os carros, os juros, os pedágios “mais caros do mundo”, entre outras informações mentirosas.
“O vídeo já era parte da estratégia de tomada da empresa, desqualificando o Brasil como lugar de negócios, construindo uma narrativa para justificar a sua saída do país”, analisa Francisco Teixeira.
Outro front de batalha poderá ser as bolsas de valores de São Paulo e Nova York, onde está a maioria das ações da Embraer, “democraticamente pulverizadas”, segundo o historiador. A confirmação do interesse da Boeing já provocou aumento de 40% nas ações da Embraer negociadas no mercado.
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