NATAL Leonardo Boff: 'Em vez de ódio, é preciso responder com amor'




NATAL

Leonardo Boff: 'Em vez de ódio, é preciso responder com amor'

Para o teólogo, uma sociedade não vive só de justiça. "Precisa de generosidade, solidariedade, estender a mão para que o sofrimento não seja tão pesado. O terrível do sofrimento é a sua solidão"
por Redação RBA 
ARQUIVO/EBC
Leonardo Boff
"As pessoas precisam aprender a virar a página, a buscar os laços que nos fazem humanos", diz Leonardo Boff
São Paulo –  "Este ano é meio nefasto. Produziu muita tristeza, muito desamparo e desesperança nos pobres, no povo. Isso acho mais lamentável porque a tarefa do Estado, de um presidente, não é dirigir uma empresa, mas cuidar do povo, da sua saúde, dos seus meios de vida, que é o trabalho. Houve um retrocesso enorme, até se fala da elite do atraso, que assumiu o poder e cortou muitos direitos, especialmente daqueles que mais precisam."
A avaliação é do teólogo Leonardo Boff, que concedeu entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual. "O saldo não é positivo, mas negativo por causa do sofrimento generalizado e da falta de horizonte e esperança que está contaminando todas as pessoas", disse ele, ainda sobre o ano que está quase no fim.
Boff falou a respeito do ódio, incentivado nas disputas políticas mas que ultrapassou essa barreira, alcançando as relações pessoais de forma geral. "Ocorreu uma coisa que nunca houve na nossa história. Ódio, raiva, rompimento de famílias por questão de partido... Precisamos de uma reconciliação e o Natal é uma ocasião para repensar isso e, em vez de ódio, responder com amor; em vez de desunião – como São Francisco diz em sua oração – responder com união. Saber dialogar, escutar o outro, aceitar divergências de opiniões porque queremos viver em uma democracia onde as pessoas se respeitam, convivem e juntas buscam construir o bem comum, que não exclui ninguém."
Para o teólogo, embora haja um cenário adverso, é preciso resgatar valores como a esperança e a solidariedade para mudar o atual panorama. "Temos que manter a esperança de que isso vai ser superado e que vai haver resistência para salvar o que deve ser salvo, que são os direitos, a dignidade das pessoas", afirma. "Uma sociedade não vive só de justiça, precisa de generosidade, solidariedade, estender a mão para que o sofrimento não seja tão pesado. O terrível do sofrimento é a sua solidão. Mas ele é aliviado quando há alguém que acompanha, estende a mão, coloca a mão no ombro, reparte o pouco que tem. É um gesto e o Natal nos convida a isso."
Leonardo Boff fez duras críticas às políticas do governo de Michel Temer. "Um Estado que não tem apoio popular, um governo interino que não vai ficar porque não foi apoiado para mudar a Constituição, para fazer leis e ajustes que tiram direitos e diminuem o bem-estar de todos", aponta.
Na entrevista, ele também falou a respeito do que considera ser o verdadeiro significado das festividades natalinas. "O Natal nos faz lembrar nossas origens humildes, porque Jesus não nasceu em um palácio, com pompa e glória, nasceu em uma manjedoura de animais para estar lá embaixo", argumenta. "A mensagem dos anjos foi essa: paz na Terra aos homens de boa vontade. E o que mais precisamos hoje é da paz. A paz não existe por ela mesma, é consequência de relação boa consigo mesmo, com o outro, com a natureza, com a sociedade e com Deus, que é o pai e mãe de todos", explica.
"As pessoas precisam aprender a virar a página, a buscar os laços que nos fazem humanos. A grandeza do ser humano é poder dar o salto por cima dele mesmo, que é saber perdoar. Não esquecer, porque coisas que afetam a nossa dignidade deixam feridas, mas podemos perdoar, refazer o sentido do encontro que é fundamental, não deixar que a família se disperse, e que o abraço da paz seja uma espécie de reconciliação. Isso faz bem para o corpo, para o espírito, a sociedade fica mais humana, hoje ela está muito esgarçada, violenta, destrutiva. O Natal é um gesto de pensarmos que Jesus nasceu na situação dos pobres, que hoje são milhões no mundo, e o cristão que não se dá conta dos pobres, não está na tradição de Jesus."
Confira abaixo a íntegra da entrevista:

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