Em jogo inaugural do campo do MST, Lula marca e joga camisa para a torcida

HOMENAGEM A SÓCRATES

Em jogo inaugural do campo do MST, Lula marca e joga camisa para a torcida

A galera que assistia ao jogo em homenagem ao craque Sócrates, que dá nome ao campo, foi ao delírio. "Expulso", ex-presidente deixou o campo sob protestos da torcida: "Volta Lula! Volta Lula!"

Guararema (SP) – Vestindo a camisa número 13, o  ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início à jogada pelo meio de campo. O craque e ídolo do Atlético Mineiro Reinaldo seu sequência e marcou o primeiro gol da partida. Na comemoração, cerrou o punho esquerdo, relembrando o gesto contra o racismo que repetiu centenas de vezes em sua carreira.
Estava aberto o placar no campo Doutor Sócrates Brasileiro, uma homenagem do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) ao craque corinthiano Sócrates Brasileiro (1954-2011) não só pelo gênio dentro de campo. Médico formado pela USP de Ribeirão Preto, o Doutor Sócrates teve trajetória como defensor da democracia e das causas populares.
O segundo gol do time de Chico foi marcado por Lula, de pênalti, em uma jogada polêmica. O juiz – o jornalista Juca Kfouri – marcou penalidade máxima contra o time do MST. Para o árbitro, João Pedro Stédile fez falta na área. Mas há quem diga que Stédile foi na bola. 
O juiz, que vinha perseguindo Lula antes de o jogo começar, aplicando um cartão amarelo fora de campo, aproveitou para dar um segundo cartão assim que o autor do gol tirou a camisa e jogou para a torcida, como forma de comemoração. Ao deixar o campo, afinal havia muitos outros querendo jogar, a torcida não perdeu a oportunidade e passou a gritar: "Volta Lula" Volta Lula". 
O ator Chico Díaz marcou o terceiro e o senador Lindbergh Farias marcou o quarto do Politeama. O primeiro tempo terminou  4 a 1. No segundo, o time comandado por Stédile reagiu e logo no início diminuiu para 4 a 2. Sofreu um novo gol e, quando perdia por 5 a 2, conseguiu marcar uma sequência de três gols. Aos  29 minutos, quando o time a casa empatou, o juiz encerrou a partida.
Com o fim do jogo principal, diversas outras equipes foram formadas e seguiram disputas que marcaram o evento como um encontro festivo e ao mesmo tempo preparatório para as disputas que virão com 2018.

Sócrates

Ainda durante os exercícios de aquecimento, Chico Malfitani, do coletivo Democracia Corinthiana, destacou a figura de Sócrates como símbolo de igualdade, liberdade e justiça social. “A gente espera que os ares Sócrates estejam presentes em 2018. Que a inauguração desse campo ajude a gente a voltar a ser um país que acredita em si mesmo, de brasileiros felizes, e não esse país do Temer e seus aliados.” 
Campeão mundial em 1970, Paulo César Caju lembrou com saudade do Doutor. "Saudades enormes do Sócrates. Uma figura marcante do futebol. Até hoje a gente briga contra o preconceito e a desigualdade, essa imbecilidade que parece que não vai acabar, que é totalmente irracional. O Sócrates lutou muito pela democracia e pelo direito de ir e vir assim como o Afonsinho."
Caju afirmou ainda que a militância política é um peso pesado para a maioria dos jogadores. "Eu nasci na favela, conheci os dois lados da moeda. Morei muitos anos na França, o hino deles diz tudo: liberdade, igualdade e Fraternidade."
O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) elogiou a homenagem para Sócrates. “A gente respeita muito ele como jogador, mas respeita ainda mais como cidadão. Uma pessoa que teve uma conduta exemplar em defesa das causas mais justas de um país tão injusto. Ele sempre se manteve muito atento à sua responsabilidade como figura pública. Um jogador excepcional em campo, de uma das seleções mais impressionantes que o Brasil já teve. Mas independentemente disso, era uma pessoa que colocava a sua figura pública à disposição das grandes causas”, disse.
Lembrou que Sócrates foi homenageado em 2016, último ano de sua gestão, ao dar nome à UPA inaugurada na zona leste da capital. E fez uma análise da conjuntura. “Estamos momento complicado da vida nacional. O combate à corrupção não pode ser feito em detrimento da política. Não se pode usar a justiça para judicializar a política para promover perseguição. Se o juiz tem time, ‘melou’ o jogo. Não podemos deixar que o jogo seja melado. Não é porque eles não têm candidato que eles podem achar que vão ganhar de W.O. Tem que ter jogo.”

Festa da solidariedade

"É uma festa da solidariedade, uma homenagem especial ao nosso querido Sócrates Brasileiro, que até no nome tinha identidade com o nosso povo. Foi um grande craque do nosso futebol, e mesmo sendo craque e médico, sempre esteve ao lado das grandes causas do povo brasileiro", destacou João Pedro Stédile. 
Segundo o coordenador do MST, a homenagem é um reconhecimento dos movimentos populares. "O MST é apenas o zelador da escola, que quer ser uma expressão das forças populares. Portanto, devíamos essa homenagem."
"Ao mesmo tempo, aproveitamos para convidar outros amigos do MST, personagens que também estão comprometidos com o nosso povo, como na área da cultura o Chico Buarque, como na política o Lula, e jogadores que foram contemporâneos do Sócrates. Uma festa da solidariedade em que estamos engraxando as chuteiras para 2018, que promete." 
Stédile destacou o futebol como parte da nossa brasileira, que se mistura com a música e com a política. "Se mistura tudo, porque assim é a vida do brasileiro. O povo tem clareza, e está demonstrando isso nas pesquisas. A Globo ficou sete anos falando mal do Lula, desmoralizando a esquerda e o PT. Mesmo assim, quando perguntados sobre quem pode mudar o Brasil, o povo é claro. A maioria quer a volta do Lula, para nós podermos mudar o Brasil." 

Prêmio CUT

Antes do jogo, a CUT homenageou Chico Buarque com o Prêmio CUT de Cultura por sua contribuição à cultura e pela sua atuação política em defesa da liberdade e da democracia.  Chico dedicou o prêmio a todos os artistas que, na década de 1970, ainda durante a ditadura civil-militar, se aproximaram do movimento sindical do ABC, ainda antes do florescimento do PT e da CUT. A comemoração foi marcada pelo público cantando em coro a música Apesar de Você.
"Nós ajudamos a criar a escola por intermédio do livro do (fotógrafo) Sebastião Salgado" lembrou Chico, referindo-se à obra, cuja venda foi revertida como contribuição para a construção da ENFF, em Guararema, região metropolitana de São Paulo. Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, “Chico é um exemplo de generosidade, coragem e lealdade”.
por Tiago Pereira, da RBA 

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