Chico Mendes e a utopia socialista na Amazônia


O sonho de Chico Mendes não era morrer por uma causa. Era viver e ajudar os povos da floresta a viverem na Amazônia

Brasil de Fato | Rio Brando (AC)
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Chico Mendes e sua esposa Ilsamar Mendes / Miranda Smith, Miranda Productions, Inc.


Atenção jovem do futuro, 6 de Setembro do ano de 2120, aniversário ou centenário da Revolução Socialista Mundial, que unificou todos os povos do planeta num só ideal e num só pensamento de unidade socialista que pôs fim a todos os inimigos da nova sociedade. Aqui fica somente a lembrança de um triste passado de dor, sofrimento e morte. Desculpem… Eu estava sonhando quando escrevi estes acontecimentos; que eu mesmo não verei mas tenho o prazer de ter sonhado.


Bilhete de Chico Mendes, escrito em 1988, ano de seu assassinato.


Esse sonho de Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, não era um sonho solitário. Nascido no município de Xapuri (AC), em 15 de dezembro de 1944, Chico Mendes aos 10 anos já sustentava a família por causa de um acidente de trabalho que o pai sofreu. Conheceu cedo as injustiças e exploração submetidas aos seringueiros.


No entanto, na sua juventude, Chico Mendes aprendeu a ler as palavras e o mundo com Euclides Fernando Távora, exilado político que vivia clandestino na Amazônia. Em 1975, participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Brasiléia e, em 1977, do STR de Xapuri, do qual se tornou presidente em 1981. Na década de 1980, tornou-se dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT).


Muitos de seus companheiros também perderam a vida na luta pela preservação da Amazônia e dos povos da floresta, entre eles, Wilson Pinheiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia/AC, em 1980.


O sonho de Chico Mendes não era morrer por uma causa. Era viver e ajudar que os povos da floresta (seringueiros, indígenas e ribeirinhos) pudessem viver na Amazônia sem desmatá-la, como há mais de 100 anos faziam — no caso dos indígenas, há milênios. Mas esse sonho era barrado pela exploração dos patrões seringalistas e, em meados da década de 1970, pelos fazendeiros vindo do sul do país que compraram seringais para transformar a floresta em pasto.


Nessa época, os seringueiros começaram a organizar os empates, forma de resistência pacífica em que homens, mulheres e crianças faziam um cerco humano para “empatar”, isto é, impedir o desmatamento. Dos 45 empates realizados, 15 foram vitoriosos, pressionando o governo federal a criar reservas extrativistas, desapropriando alguns seringais.


Darci Alves Pereira, a mando de seu pai Darly Alves da Silva, fazendeiro que teve seu seringal desapropriado, mata Chico Mendes no dia 22 de dezembro de 1988 quando este abria a porta dos fundos de sua casa para se banhar ao final do dia.


Ao invés de fragilizar a luta dos povos da floresta, a morte de Chico Mendes deu-lhe novo fôlego. Isso aconteceu, em grande parte, devido à pressão internacional, pois Chico Mendes já era conhecido internacionalmente, tendo ganhado, em 1987, o prêmio Global 500, concedido pela ONU (Organização das Nações Unidas) por seu destaque na defesa pelo meio ambiente.
Edição: Texto publicado originalmente em 2010 no Brasil de Fato

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