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Em texto intitulado 'Qual o projeto de país?', o economista e cientista político Bresser Pereira faz uma retrospectiva de 2017, e avalia que o ano "termina com os olhos de todos voltados para as eleições presidenciais do próximo"; Bresser acredita que somente as eleições podem tirar o País do caos, "desde, naturalmente, que Lula não seja impedido de concorrer, ou, em outras palavras, desde que o Judiciário afinal rejeite o caráter essencialmente político de sua condenação por um juiz de Curitiba".
247 - Em texto intitulado 'Qual o projeto de país?', o economista e cientista político Bresser Pereira faz uma retrospectiva de 2017, e avalia que o ano "termina com os olhos de todos voltados para as eleições presidenciais do próximo".
Bresser acredita que somente as eleições podem tirar o País do caos, "desde, naturalmente, que Lula não seja impedido de concorrer, ou, em outras palavras, desde que o Judiciário afinal rejeite o caráter essencialmente político de sua condenação por um juiz de Curitiba". Segue a íntegra da análise.
O ano de 2017 termina com os olhos de todos voltados para as eleições presidenciais do próximo ano. Os últimos três anos foram marcados pela perda de legitimidade da presidente reeleita, por um golpe parlamentar realizado com o apoio da elite liberal, financeiro-rentista, e por um governo sem legitimidade nem política nem moral. Diante desse quadro tenebroso, as eleições são a única esperança, porque elas darão legitimidade ao novo presidente, seja ele de centro-esquerda ou de centro-direita. Desde, naturalmente, que Lula não seja impedido de concorrer, ou, em outras palavras, desde que o Judiciário afinal rejeite o caráter essencialmente político de sua condenação por um juiz de Curitiba.
Além de restabelecer a legitimidade do presidente, as eleições presidenciais serão o momento de os candidatos delinearem qual seu projeto de país, qual o projeto nacional de desenvolvimento que propõem.
Para a centro-direita, o candidato mais provável e mais respeitável é Geraldo Alkmin. É um político sério, tem uma grande experiência, e seu critério de ação é o do interesse público. Não é um neoliberal, mas será o candidato liberal-conservador, e isto significa que não oferecerá um projeto de nação. O liberalismo econômico só tem uma proposta – reduzir o tamanho do Estado, e limitar sua ação à garantia da propriedade e dos contratos, ou seja, à garantia do funcionamento do mercado, que, supostamente, seria capaz de regular de maneira satisfatória tudo o mais.
Na centro-esquerda, o candidato mais forte, que certamente estará no segundo turno, é Lula – um grande líder político. Mas há um segundo candidato, Ciro Gomes, com menos intenções de voto, mas com um projeto de país claro. Seu irmão e ex-governador do Ceará, Cid Gomes, em artigo na Carta Capital (27.12.2017), resumiu qual é esse projeto.
"Cada palavra de 'projeto nacional de desenvolvimento' tem um significado muito forte. 'Projeto' é um conjunto de metas para as quais devemos estabelecer prazos, métodos, avaliação e controle. Por 'nacional' entende-se que não há um modelo universal a ser seguido. No que diz respeito ao 'desenvolvimento', é preciso romper com os mecanismos de dependência, exercitar justiça social, garantir boa distribuição de renda e prover serviços públicos de qualidade. Para a crise política imediata, Ciro Gomes destaca três linhas de ação: 1. Consolidar o passivo privado, resolvendo rapidamente o problema do endividamento das empresas brasileiras. 2. Sanear as finanças públicas e voltar a investir nas áreas importantes. 3.Diminuir o desequilíbrio externo, buscando fortalecer a indústria brasileira em uma clara política de substituição de importados que contem com patente vencida e pelos quais o Estado brasileiro já gasta anualmente o suficiente para fomentar empresas nacionais com compras governamentais. Como exemplo, serão prioritários quatro grandes complexos industriais: petróleo e gás e bioenergia, complexo industrial da saúde, complexo industrial do agronegócio, e complexo da defesa".
Aí estão as linhas de um projeto nacional de desenvolvimento. Lula ainda não teve tempo de definir seu projeto, mas já nomeou a equipe básica que o formulará, comandada por Fernando Haddad. Nos oito anos em que Lula governou o país, seu projeto pode ser definido com duas frases: diminuir a desigualdade e realizar política industrial. Foi bem sucedido em reduzir a desigualdade, principalmente através do aumento do salário mínimo, mas sua política industrial se revelou ineficaz dados os juros altos e a taxa de câmbio apreciada no longo prazo, que já existiam antes, mas seu governo não foi capaz de resolver.
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