Dilma ao Tijolaço (IV): ‘governo ilegitimo não pode mexer na Previdência’. Assista a Parte Final da Entrevista Exclusiva

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Dilma ao Tijolaço (IV): ‘governo ilegitimo não pode mexer na Previdência’

Na quarta e última parte de sua entrevista ao Tijolaço, Dilma Rousseff diz que não se pode admitir que “um governo que não teve votos, se arvore a fazer uma reforma que lida diretamente com a vida das pessoas” com as mudanças propostas para Previdência que, segundo ela, terá dificuldades em passar porque “os deputados não são suicidas”.
Ela diz que o país precisa debater  os problemas e elogia as caravanas de Lula por que refletem a necessidade de discutir os problemas “ todos os dias, todas as horas”Ela não crê que mas possibilidades de uma candidatura João Dória Jr. (“um Trump tupiniquim”) e acha Jair Bolsonaroproduto de “um processo de intolerância, de racismo, de misoginia” instalado no Brasil pelo golpismo.
Dilma fala ainda de seu convencimento de que a exclusão de pobre e negros no Brasil, além do econômico, tem um componente na cultura de privilégios, que não admite a igualdade essencial entre os seres humanos.
Assista:

“A reforma trabalhista abre
um rombo na previdência”

A PEC dos gastos, a reforma trabalhista a tentativa de extinção da Farmácia Popular, o governo Temer parece um teatro de horrores e o último ato dessa peça parece ser a Reforma da Previdência. Ele pretende votar até o final do ano. A presidenta Dilma acredita que o Temer possa realizar esse plano para aprovar a reforma?
Eu acredito no seguinte. Acho que quanto mais perto de 2018, mais o dilema que envolve o governo Temer fica mais difícil de ser solucionado. Qual é o dilema? Se ele fizer aquilo que ele prometeu ao mercado , a reforma da Previdência, por exemplo, e com toda a truculência que essa reforma representa aos direitos dos trabalhadores, se ele fizer isso, ele agrada ao mercado. Mas quanto mais perto de 2018, ele mais desagrada à população. Ao desagradar a população, os nobres deputados, pode-se usar vários adjetivos, mas eles não são suicidas. A probabilidade de uma aprovação de 308 votos, ela fica menor. No entanto, eu não posso dizer o que vai acontecer, mas eu posso te dizer o que não devia acontecer. Não devia e não é possível se admitir que um governo que não tenha a menor legitimidade e um governo que não teve votos, se arvore a fazer uma reforma que lida diretamente com a vida das pessoas. E não é de umas pessoas, todos os brasileiros e brasileiras que trabalharam a sua vida inteira. Que lida com isso. Que mexe com isso, com o anseio das pessoas. Com o anseio das pessoas , a família se manter. Não é possível que isso seja feito por um governo que não tem a menor legitimidade.
Essa é uma questão que tem que ser resolvida depois da c a eleição de 2018, com um presidente legitimamente eleito num processo amplamente democrático. Eu não acredito. Não acredito, em hipótese alguma ,que o que tenha ocorrido no Brasil as “ditas “ reformas produzam elas boas consequências. Você veja essa contradição. Aprovaram uma reforma trabalhista que precariza o trabalho, Que transforma um posto de trabalho em 3 porque divide, né? Trabalha 10 horas.. Vai tornando, cada vez mais, o trabalho parcial.Vai criando uma insegurança imensa nas pessoas. É o que tá acontecendo em alguns países do mundo. E aí o que acontece com a Previdência? Vai criando um déficit maior a Previdiência porque a contribuição diminui. Quando você não olha para os trabahadores, você só quer beneficiar alguns poucos, você produz consequências absolutamente contraditórias. Essa reforma trabalhista abre um rombo na previdência. Eu sugiro que seja prudente para todos nós e acho todos nós devemos lutar por isso.
A eleição presidencial de 2018 já começou. Ela começou não porque estão fazendo campanha eleitoral. Ela começou porque tão discutindo os problemas. A discussão dos problemas feita por você , por mim, por todos nós em cada uma das nossas áreas é fundamental. E acho que a iniciativa do presidente Lula para fazer caravanas para discutir as grandes questões é muito importante porque ela cria esse espaço democrático que não precisa do dia 18… aliás de 2018. Você tem de discutir o seu país todos os dias, todas as horas.
A senhora acha que é possível levar a avante a ideia de um candidato que surja como um truque?
Eu acho que no Brasil é muito difícil esse processo.Porque que eu acho? Nós temos uma experiência de candidatos feitos pela mídia, como os caçadores de marajás.Mas um outdsider hoje tá se mostrando cada vez mais difícil de decolar. Você tem dois outsiders. Um que é o padrão, o Tupiniquim…
O Bolsonaro.
Não, o Trump tupiniquim, para mim, O Trump tupiniquim pra mim é o prefeito de prefeito de São Paulo…
Eu já tinha tirado este da lista…
Um gestor que não gere. Ele que é o Trump. É o chamado gestor que não gere. Isso, “jestor” com J. O outro é uma pessoa que tem todo direito de querer ser candidato, é um brasileiro nato. Mas me desculpem que o exemplo… Porque que eu falo isso? Eu assisti uma cena dantesca. Eu assisti ser considerado política social a distribuição por programa de auditório de uma casa, duas casas, três casas, quando a carência de casas no Brasil, o déficit habitacional se conta por milhões. Nós começamos a encarar esse déficit habitacional. Com o programa Minha Casa Minha Vida nós fizemos 4, 5 milhões de moradias. Entregamos e em torno de 2,7 milhões. E eles estão interrompendo. Pararam com o Minha Casa Minha Vida, que era para a população carente, onde que tem o déficit. E tão fazendo Minha Mansão, Minha Vida.
Faixa 1 virou Zero.
Faixa 1 desapareceu do mapa. E ali que tava a necessidade. Era ali. Você veja o seguinte. Não é possível fazer programa social no Brasil, com essa carência, para 4 a 5 pessoas. Programa de auditório está aquém .. Como eu disse no início lá no início do seu programa… Programa de auditório é pior que os programas pilotos do PSDB. Os programas pilotos do PSDB pelo menos eram para 50 mil pessoas. O nosso foi para .. Vou repetir: Bolsa Família para quase 56 milhões e o Mais Médicos para 63 milhões.
A senhora não enxerga, como querem fazer crer, o “perigo Bolsonaro”, a polarização “Bolsonaro x Lula”, que a meu ver também não existe?
Olha , eu acho que o Bolsonaro não é uma ficção. E nem tampouco, como me perguntaram lá fora, se o Bolsonaro era produto dos militares. Não é. As Forças Armadas brasileiras
Não têm nada a ver com Bolsonaro…
O Bolsonaro faz parte deste processo golpista que desencadeia um processo de intolerância, de racismo, de misoginia. E que cria um antagonismo dentro do país, porque trata todas as questões sociais como sendo produto de uma mente que  quer se aproveitar dos pobres. Vocês lembram da história de que o Bolsa Família era o “Bolsa Esmola”? Essa é a visão deste pessoal de direita. Mostra da parte deles uma ignorância lapidar, porque o Bolsa Família ele está feito em cima de um imenso cadastro da pobreza no Brasil, que a gente sabe onde estão quem são (os muito pobres), se não destruíram o cadastro. onde moram, que a gente levou 13 anos construindo. E, ao mesmo tempo em cima de uma plataforma digital que é o cartão. E que nela não há um contato clientelista, muito ao gosto destes aí que nos acusam.
Nós jamais aceitamos uma relação clientelista com a população, nós entregávamos o cartão através do banco, por que? Porque  ele tinha o direito de receber o cartão;  ou ela, porque era cidadã. Porque a gente sabe que a mulher na família brasileira ocupa um papel fundamental. Sem falar mal dos homens, mulher não bebe no bar da esquina. A mulher, a mãe, faz qualquer negocio para dar comida para os filhos, para dar uma coisa melhor aos filhos. É por isso que foi para a mulher. E também porque tínhamos as condicionalidades: que é garantir que a criança e o jovem tenham uma taxa de presença (escolar) de no mínimo 87% de comparecimentos às aulas e que faça três vacinas obrigatórias e a mulher faça três vezes o  pré-natal. Eu tenho de ter a mulher fiscalizando… É uma visão absolutamente errada do país.
Eu acho lamentável, porque há ima hora que eu fico achando que o componente exclusão, da desigualdade e da exclusão histórica no Brasil, ele se combinou com a lógica do privilégio. Nós somos o maior país negro fora da África e o segundo maior, se contar a África – o primeiro é a Nigéria. Nós vivemos em escravidão até 1.888. Quando eu fiz a conta do dia em que eu nasci – eu nasci em 47, tinha doze anos até o final do século (19), mais 47 dá 59 anos; tinha 59 anos que a escravidão tinha acabado. Você acredita que em 59 anos acabam com esta marca terrível que é a escravidão? Não, não acaba. Muito menos agora com 138 anos.
O que nós temos de ver? Nos temos de ver que tem um componente de privilégio. Não sei se vocês viram um twitter entre a patroa e a empregada: a patroa reclamando da empregada de forma dura (NR: por usar o banheiro da casa)…Para mim, em toda a exclusão social que existe no Brasil tem um lado que tem a lógica do privilégio. Então, tem aquela história: ah, este pessoal está transformando os aeroportos do país numa grande rodoviária, porque antes, no aeroporto, só entravam eles, uns poucos. A hora em que começa a entrar o povão, acham “está demais”…Uma das coisas que mais me comoveu foi assistir a uma formatura – e agora eles acabaram com a formação de médico no Brasil…a classe média tem de ser capaz de perceber que este golpe é contra ela, vai reduzir as oportunidades para ela…
Com a proibição de novos curso (de Medicina) …
Com a proibição de novos cursos …Mas eu assisti uma formatura de médicas e uma das moças que estavam se formando em Medicina, ela era negra.  E ela disse o seguinte: No Brasil, quando a senzala vira médica, a casa grande surta…Ela tem toda a razão.
Eu queria agradecer, em meu nome, no da Beth e no dos leitores do Tijolaço, agradecer de coração a sensibilidade  que a senhora teve com um veículo alternativo, que é a parte que nós podemos fazer pela democratização dos meios de comunicação. Batalhar, insistir, trabalhar, para que não só o nosso país reencontre o caminho da democracia, mas também a nossa profissão reencontre o caminho da liberdade e não fique contida em quatro ou cinco veículos, que impõem a visão que têm ao povo brasileiro. Obrigado .
Posso fazer uma propaganda final? Leiam o Tijolaço.

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