Benedita: Pisar no Valongo é sentir a dor de mais de um milhão de escravos comercializados nesse cais; veja vídeo
Benedita: Pisar no Valongo é sentir a dor de mais de um milhão de escravos comercializados nesse cais; veja vídeo
VIOMUNDO
Da deputada Benedita Silva (PT-RJ), via whatsapp
Pisar no Cais do Valongo é sentir a dor de mais de 1 milhão de africanos escravizados e comercializadas nesse local
Desde 9 de julho de 2017, o sítio Arqueológico Cais do Valongo é Patrimônio Mundial
Da Redação
Janeiro de 2016, Dilma Rousseff era a presidenta do Brasil e Juca Ferreira, o ministro da Cultura.
O IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,órgão vinculado ao Ministério da Cultura, e a Prefeitura daCidade do Rio de Janeiro, submeteram à Unesco a proposta de inscrição do Sítio Arqueológico do Cais do Valongo na lista do Patrimônio Mundial.
Para apoiar a candidatura, o Brasil apresentou um dossiê (na íntegra, ao final), que resgata magnificamente a história do local de desembarque dos escravos no Rio de Janeiro entre 1774 e 1831. Foi o maior porto de africanos escravizados nas Américas.
Abaixo, três trechos extraídos do dossiê:
O Sítio Arqueológico Cais do Valongo, situado na região portuária, zona central do município do Rio de Janeiro, contém os vestígios arqueológicos de um antigo cais de pedra, construído a partir de 1811, no local em que desde 1774 recebia com exclusividade os africanos escravizados, que entravam no Brasil pelo porto do Rio de Janeiro.O cais foi aterrado em 1843 para as obras de um novo local de desembarque, destinado a receber a princesa napolitana Tereza Cristina de Bourbon, esposa do Imperador Dom Pedro II.Entre 1904 e 1910, um grande aterro realizado para a construção do novo porto da cidade encobriu também o Cais da Imperatriz, afastando a borda d’água 344 metros em relação ao local do sítio.Conforme denominação dos atuais logradouros, o sítio corresponde à área da Praça Jornal do Comércio e está delimitado pela Avenida Barão de Tefé, Rua Sacadura Cabral e pelo limite lateral do Hospital dos Servidores do Estado, no número 178 da Rua Sacadura Cabral.Na sua configuração original, a área onde se construiu o cais localizava-se numa pequena enseada na desembocadura do estreito vale entre os morros do Valongo e do Livramento, também conhecida como Valonguinho, que era parte de uma enseada maior, protegida pelos morros do Livramento e Saúde, conhecida como Praia do Valongo.Nesse ambiente geograficamente protegido funcionou, entre 1774 e 1831, o mercado de escravos do Rio de Janeiro, que incluía os depósitos e armazéns de escravos, o Cemitério dos Pretos Novos, que recebia os corpos daqueles que não resistiam às duras condições da travessia atlântica, e o Lazareto da Gamboa, destinado à quarentena dos escravos doentes recém-chegados.Foi o maior complexo de comércio escravagista das Américas. A atividade do comércio de escravos na região iria diminuir progressivamente a partir de 1831 quando o tráfico atlântico de africanos escravizados foi formalmente proibido no Brasil.A partir desse ano, os desembarques passaram a ser feitos de forma clandestina em praias afastadas, que se encontravam em sua maior parte próximas ao Rio de Janeiro, pois nessa época o sudeste do Brasil era a área que mais demandava cativos.(…)Em 1843, a pavimentação do Cais do Valongo foi aterrada em aproximadamente 60 cm para a construçãodo já mencionado Cais da Imperatriz.Como destacamos, mas vale reiterar, construir um novo cais sobre o Cais do Valongo significava mais que uma obra de embelezamento do local de desembarque da futura Imperatriz, era uma medida concreta no sentido de soterrar uma parte da história que as autoridades pretendiam ocultar, mas que ainda estava longe de ser superada: a escravidão africana no Brasil.A própria representação simbólica do cenário montado para recepcionar a Princesa das Duas Sicílias demonstra, por si só, o empenho do Estado em requalificar o local, reescrever a história de sua ocupação urbana.(…)O Sítio Arqueológico Cais do Valongo teve a sua autenticidade garantida pelos168 anos em que esteve coberto inicialmente pelo Cais da Imperatriz e depoispelo aterro do porto construído no início do século XX.Este apagamento dequase dois séculos permitiu que se conservassem quase intactos o desenhoe a concepção da pavimentação, seus materiais originais característicos dastécnicas construtivas comuns no Brasil dos séculos XVIII e XIX.O cais de pedra construído a partir de 1811 na praia do Valongo simboliza todo o local de desembarque dos escravos no Rio de Janeiro entre 1774 e 1831.Há, também, outro aspecto relevante que confere autenticidade ao sítio, consubstanciado na reapropriação simbólica que a população local, emespecial os afrodescendentes, fazem do cais. Ele é hoje um lugar de memória da dor causada pela escravatura e de celebração da sua herança na construção da nação brasileira.
Em 9 de julho de 2017, o Sítio Arqueológico do Valongo recebeu da Unesco o título de Patrimônio Mundial por ser o único vestígio material da chegada dos africanos escravizados nas Américas.
Dossiê Cais do Valongo by Conceição Lemes on Scribd
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