Quando a gente lembra da badalação que a elite brasileira fazia a Lula, no tempo das vacas gordas – para eles, obesíssimas – bem poderia vir à mente a ciranda infantil: O anel que tu me destes/Era vidro e se quebrou/O amor que tu me tinhas/Era pouco e se acabou.
Salvo raras exceções, a nata da imprensa brasileira – alguns deles, quando jovens, encantados com o “operário na política” – trata Lula com um desprezo e nojo que, no fundo, têm ao tempo em que eram, ou pensavam que eram, mosqueteiros da “esquerda”.
Mas quando a gente olha a coleção de pinturas – desculpem, não são fotografias –
feitas pelo Ricardo Stuckert durante a peregrinação que Lula faz pelas lonjuras do Brasil, vê-se que existe um amor que não é pouco e sobreviveu à mais intensa e canalha campanha de propaganda que já se desenvolveu no Brasil contra um líder político desde a que se fez contra Vargas. Mesmo contra Brizola, tenho de reconhecer, os limites foram superados e olhe que não é fácil fazer contra alguém o que a Globo fez contra ele.
Só não é, aliás, maior do que aquela que se fez contra Getúlio porque a este se acusou de ser mandante de um assassinato, o de Rubens Vaz.
A mim, a emoção que transborda no rosto das pessoas impressiona mais que a visão dos montes de gente que se atrai a vê-lo, debaixo de sol, neste Brasil que não é brilhante e azul como o mundo das elites, mas encardido das poeiras da terra castigada que somos.
Fico com pena de quem tem de escrever o pouco que sai desta marcha na imprensa e nas redes sociais. Como descrever com palavras o que está na imagens do “Stuquinha”? Como provocar um entendimento igual com um ” a lavradora Maria de Souza, 72 anos, se emocionou quando Lula…” diante da visão do rosto esculpido pelo tempo, pelo sol e pela pobreza?
Os intelectuais de pretensão grande e coração pequeno chamam logo de “populista” o que veem. O povo brasileiro, para eles, é uma terceira pessoa, alguém distante do que ele próprio é que, no máximo, precisa ser “ajudado”, quando muito.
O que vejo ali, creiam-me, é um Lula que só não está plenamente feliz porque tem um medo, que não é de Moro.
É do tempo.
De novo peço a bondade, senão a de me acreditarem, a de ouvirem quem acompanhou um personagem da história das lutas sociais do povo brasileiro: não é retórica quando Lula diz que gostaria de não ser candidato, mas tem o dever de sê-lo.
Essa é a força que anima a sua candidatura.
Ela não vem de dentro para fora, mas de fora para dentro do mundo político.
Quase igual e completamente diferente do que é Lula, que é muito maior do que suas qualidades e defeitos pessoais, como todos temos.
Lula é preparado pelo Brasil, o fruto inevitável de um povo.
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