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Levantamento dos jornalistas Rubem Bertha e Tomás Chiaverini mostra que pouco mais de dois meses entre o dia 2 de agosto e esta quarta, 25 de outubro, foram suficientes para que 11 deputados mudassem suas posições entre a análise da primeira e da segunda denúncia contra Michel Temer no plenário da Câmara; entre os que agora votaram contra Temer, há desde a incoerência escancarada até uma espécie de estratégia avestruz; em agosto, quando votaram a favor do presidente, boa parte dos deputados simplesmente ignorou o assunto em suas páginas.
Por Rubem Bertha e Tomás Chiaverini, The Intercept
Os pouco mais de dois meses que se passaram entre o dia 2 de agosto e esta quarta, 25 de outubro, foram suficientes para que 11 deputados mudassem suas posições entre a análise da primeira e da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer no plenário da Câmara. Oito viraram a casaca para, desta vez, decidirem que o processo deveria seguir no Supremo Tribunal Federal (STF). Três fizeram o caminho inverso. Um levantamento feito por The Intercept Brasil nas páginas no Facebook desses parlamentares mostra as duas faces distintas dos políticos em cada momento.
Entre os que agora votaram contra Temer, há desde a incoerência escancarada até uma espécie de estratégia avestruz. Em agosto, quando votaram a favor do presidente, boa parte dos deputados simplesmente ignorou o assunto em suas páginas. Ninguém quis destacar isso no currículo. Agora, com a mudança de rumos, eles fizeram questão de publicar postagens inflamadas em defesa do povo e contra a corrupção. Foi o caso de Abel Mesquita Jr. (DEM-RR), mais conhecido como Abel Galinha. O post desta quarta (25):
Já em 2 de agosto, quando votou a favor do presidente, o deputado agora indignado, que pertence à bancada ruralista, postou apenas sobre a sanção de uma medida provisória por Temer, que beneficiaria sua base eleitoral. Nada sobre sua posição em plenário na votação da primeira denúncia.
A estratégia de avestruz em uma data e de pavão na outra funcionou também quando o caminho foi inverso. Em 2 de agosto, César Halum (PRB-TO) votou pelo prosseguimento da denúncia e se gabou disso nas redes sociais. Já nesta quarta, engordou a turma do abafa o caso, mas não achou necessário postar nada sobre o assunto em sua página pessoal.
Quando se deparam com toda a incoerência da condição humana e política, há também os que abrem o jogo. Mas com pesos e medidas ligeiramente diversos.
Logo após Michel Temer assumir o governo, no dia 13 de maio de 2016, o deputado João Campos (PRB-GO), sem se ater ao perigo de ver o presidente derretendo feito boneco de cera, resolveu fazer uma oração. “Deus não te deixará nem te desamparará até que acabes toda a obra e todo o serviço”, disse.
Já neste ano, quando chegou a hora de votar pela primeira denúncia, continuou supostamente ao lado do Senhor e votou com Temer. Mas não há registro do voto na página do Facebook. Apenas um vídeo ressaltando a importância do momento, em que ele disse:
“Hoje é um dia muito importante para o Brasil. Tenho certeza de que todos vocês estão acompanhando e verá (sic) como cada partido, cada parlamentar haverá de se posicionar, pensando sempre no brasil, na ética, na moralidade e na prosperidade do nosso país.”
Já na hora da segunda denúncia, Campos foi mais sucinto. Mandou um beijinho de ombro para Deus, para o presidente e para a acentuação. Impunidade NAO.
Jaime Martins Filho (PSD-MG), o Jaiminho, foi pelo mesmo caminho. Nesta quinta (26), após a votação da segunda denúncia, a postagem foi assim:
Já em 2 de agosto, quando voto era a favor de Temer, havia muito mais brilho na oratória:
E o que dizer de Delegado Éder Mauro (PSD-PA)? Em agosto, ele até queria que Temer fosse investigado, mas num dia distante qualquer…
Mas o tempo passou e, nesta quarta, a conclusão foi que o presidente tinha de ser julgado AGORA:
Por fim, há aqueles que escancaram a coisa mesmo, fazendo longas digressões para explicar o inexplicável. É desse mal que padece, por exemplo, João Paulo Kleinubing (PSD-SC).
Em 2 de agosto ele escreveu um textão pra explicar por que era a favor de que o presidente fosse deixado em paz com seus busílis:
Já nesta quarta (25), outro textão, agora dizendo exatamente o contrário: por que o presidente tinha de ser investigado.
E aí, faz sentido?
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