Vale a pena ser cristão, hoje?
Prezado amigo, Técnico em Geociências, Claudio D’Amato, Rio de Janeiro, RJ
Sou muito agradecido ao amigo por apoiar as publicações deste blog e deixar suas pistas ao clicar sob os links que posto nas redes sociais.
A frase do banner de sua página no Facebook é boa e serve para este tema: “A religião aliada à política é uma arma perfeita para escravizar ignorantes”.
A pergunta que tematiza esta carta me inquieta muito diante de fatos vergonhosos.
As notícias sobre a participação de ditos cristãos em todos os atos do golpe que inferniza nosso povo, principalmente os trabalhadores e os mais pobres deste país me impõe a pergunta por se vale a pena ser cristão.
A bancada evangélica formada por deputados/as ditos cristãos, boa parte pastores/as, aliada das bancadas do boi, da bala e dos bancos, verdadeiras frentes de apoio ao egoísmo que protege os interesses mais mesquinhos e danosos de minorias que manipulam politica e economicamente projetos que dão vantagens somente aos mais ricos em detrimento dos sofridos da base social, me intriga quanto a que Cristo seguem seus membros.
A briga de evangélicos e católicos fundamentalistas por aspectos moralistas da orientação sexual de gays e dos casamentos homo afetivos são de tal monta que parece terem mudado o conteúdo do mandamento do amor ao próximo.
Dão a impressão de que o próximo só pode ser amado se deixar de ser ele mesmo, se mudar, para que o tal amor ensinado por Jesus aconteça sem nenhum esforço e tolerância por parte de seus seguidores.
Ultimamente a batalha pela ‘cura gay’ com as denúncias de interesses econômicos a mover psicólogos/as evangélicos/as de olho nas verbas públicas a serem distribuídas a todos os tipos de reversão, inclusive sexual, me faz perguntar sobre a compaixão pelas pessoas, que deveria ser o centro da vida dos/as cristãos/ãs.
Há muitos ditos cristãos alegando decepção com as igrejas e seus donos. Dão-se conta de que as pessoas são feitas clientes do mercado religioso, que oferece produtos dos mais esdrúxulos possíveis como a água do Rio Nilo que Moisés bebeu, pedaços de madeira da cruz de Jesus à enganação aproveitando-se do desespero das pessoas.
Muitos desses cristãos saem dos templos gigantescos, com sons estridentes, bandas musicais para enrolar multidões sob o pretexto de louvar ao Senhor e formam grupos dos chamados “sem igreja”. Porém, continuam individualistas, cultivando espiritualidade alienada e sem compromisso social com as grandes demandas humanas e ecolo[ógicas. Saem da lama e entram no pântano.
Outros formam as tais igrejas orgânicas alegando cansaço com hierarquias, com dogmas, com estruturas eclesiásticas pesadas e com pressão por dinheiro e mais dinheiro. Porém continuam alienados e apegados a um Cristo sem história e fantasmagórico.
Insisto na pergunta se vale a pena ser cristão como tantas pessoas que fazem o sinal da cruz, mas a negam fugindo da luta e se encolhendo dentro de orações pedindo para Deus o que é de nosso dever realizar, lutando pelas transformações das estruturas iníquas e injustas.
A pergunta me inquieta quando vejo milhares de cristãos heréticos que comungam na mesa eucarística, mas negam o Cristo do pão e do vinho ao cruzarem pelas pessoas que passam fome por causa do capitalismo elevado ao pior grau de perversidade estilo quadrilha de Michel Temer.
Há cristãos que se dizem inclusivos, que defendem os direitos do amor e da família modelo gay, que são mordazes com ódio dos da ‘cura gay’, mas se tornam excludentes, preconceituosos com os que lutam por justiça social, pelos direitos humanos, pelas mudanças profundas na eliminação das causas da iniquidade das relações econômicas, pelos que lutam dignamente pela revolução. São cristãos redutivos à sua causa, são interesseiros místicos não enxergando um centímetro do pecado social que encharca todas as relações, inclusive a da sexualidade.
Interessantes esses “santos” inclusivistas: eles não têm a menor sensibilidade social. Sua mediocridade os leva a caminhos tão alienantes quanto aos dos seus inimigos da ‘cura gay’. Facilmente os vemos aos choramingo, declarando-se vítimas de perseguição e de incompreensão, mas por nada abrem os olhos para as grandes causas.
Pelo contrário, enxotam os que lutam, os que amam e que são amplamente inclusivos com todos os oprimidos.
Quando vejo os pobres abarrotarem as igrejas dos exploradores do templo, dos que arrancam dízimos a chicotadas emocionais; com os pobres ditos crentes que bateram panelas contra Dilma, mas que odeiam lutar contra o golpe e contra a barbárie que vivemos hoje me pergunto se vale a pena ser cristão.
Dói ver milhões em procissões em busca de milagres, deixando nos cofres das igrejas milhões de reais para o enriquecimento das grandes instituições eclesiásticas; também os tais marchadores para Jesus, na verdade, cabos eleitorais dos preconceitos e dos salvadores fascistas da pátria, berrando e empunhando cartazes, vestindo camisetas, mas sua marcha é como gado empurrado enganado ao matadouro.
Os tais fiéis das rumarias alienantes e das marchas para Jesus jamais se somarão às multidões em favor da libertação do Brasil das garras diabólicas do capitalismo porque a Maria que louvam e o Jesus que dizem ser seu salvador não têm nada a ver com a família palestina de Nazaré, esta apaixonada por novo projeto que não o opressor do império romano.
Enfim, nesse contexto de tanta alienação, de dolorosa alienação e omissão, eu me pergunto onde colocaram o Jesus libertador e revolucionário odiado e assassinado pelo império romano e pelos oficiais do templo de Jerusalém, a quem milhares de cristãos de hoje servem.
E respondo que desse Jesus dos dízimos, das curas vendidas, dos milagres caros, dos padres pula pula que fazem campanhas eleitorais para canalhas, dos pastores da bancada evangélica, dos pregadores que querem as almas das pessoas para Jesus e o dinheiro para suas igrejas manterem suas contabilidades sempre ativas e crescentes, dos emocionados cantores religiosos que vivem vidas luxuosas enganando as pessoas com suas letras superficiais, de teologia café passado, de poesia barata, das mulheres histéricas e mal resolvidas que dão testemunho do “maravilhoso amor de Deus” por elas e suas famílias mesquinhas, eu não quero, eu não creio, eu desprezo.
Vale a pena ser cristão do Jesus que nunca foi cristão.
Vale a pena ser cristão seguidor do Jesus da palestina histórica, oprimida e esmagada como flor no meio do barro, com quem Jesus Galileu se misturou, viveu, lutou, brigou e morreu como quem não se vergou aos apelos pelo poder que trai porque ilude.
Vale a pena ser cristão nas pegadas do Jesus pobre que viveu entre os pobres mais miseráveis do planeta e os amou, os libertou, os curou de sua opressão, o maior dos pecados, e os ajudou a construir a páscoa libertadora.
Vale a pena ser cristão, não o do reza reza, do papa hóstia, da falsa espiritualidade dos que pedem para Deus mudar o mundo sem que se envolvam no sacrifício com riscos da perda da própria vida para transformar esse mudo e sem se conformar a ele, tão opressor, desumanizador e destrutivo da criação que é o capitalismo.
Vale a pena ser cristão de consciência, de fé, de espiritualidade e de compromissos com o Jesus que disse: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a boa notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos…” (Lucas 4, 18 – 19).
Daí, a partir de Jesus, olhar para os lados e encontrar o padre Camilo Torres, o cristão que abandonou o cristianismo feudal e capitalista da cúria aliada dos opressores na Colômbia, para abraçar a revolução, dá vontade de ser cristão.
Ao ler a história do Brasil e me deparar com Frei Caneca, que preferiu o caminho da luta revolucionária pela independência do Brasil, libertando-o dos pulsos dos ladrões de nossas riquezas e da comida de nossos corpos, que não titubeou em face do cadafalso que o matou, mas seguiu firme no testemunho libertador, dá vontade de ser cristão.
Ao acompanhar Dom Helder Câmara, o amigo dos pobres do nordeste brasileiro, o profeta da justiça e da paz, que preferiu morar aos fundos de uma igreja a viver na luxúria do palácio episcopal, sempre evolvido nos grandes projetos, dá vontade de ser cristão.
Para mim não há o que duvidar: ser cristão é ser revolucionário. É implicar-se no rigor da luta com todos que não se contentam nem se espreguiçam à frente de altares a pedir a Deus e a todos os santos que trabalhem enquanto esperam preguiçosos pelo céu.
O milagre da fé hoje implica na revolução que une a todos e todas, sem perguntarmos com espirito divisionista quem é católico romano, quem é evangélico, quem é orixá, quem é heterossexual, quem é gay, quem é negro, quem é branco, que é, quem é ….
A fé nos projeta para dentro da luta com todos, embora respeitadas as nossas diferenças em tudo.
Assim vale a pena ser cristão. Cristão não do Cristo fantasma dos exploradores, mas do Jesus de Nazaré, que nunca negociou com os traidores e vacilantes.
Críticas aos cristãos de altar sem luta, entre eles o bando de falsos cristãos das bancadas e do curandeirismo, mas abraços fraternos aos santos e santas que lutam por terra, por habitação, por cidadania, por justiça, por igualdade, por liberdade, aos cristãos revolucionários não sectários, sempre!
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