Mais do que patifarias, as privatizações são o fim do Brasil
No Prefácio à segunda edição (1999) do livro de Adrián Salbuchi, "El Cerebro del Mundo – La cara oculta de la Globalización", Gerardo Palacios Hardy alerta que, embora mais questionado pelo significado econômico, o processo de globalização debilitaria os Estados Nacionais a ponto de se prognosticar suas extinções no século XXI. Também Octavio Ianni (A Era do Globalismo, 1996) assinala que "um dos signos da globalização do capitalismo é o desenvolvimento do capital, transcendendo mercados e fronteiras, regimes políticos e projetos nacionais, regionalismos e geopolíticas, culturas e civilizações".
Com o golpe de 2016, o Estado Nacional Brasileiro voltou ao controle integral da banca, quer a entendamos como o sistema financeiro internacional quer designando esta nova ordem mundial (!). E, não por mero acaso, a marca dos períodos presidenciais de Fernando Cardoso – as Privatarias Tucanas – retorna para concluir a alienação de todos os recursos naturais, estratégicos e produtivos do Brasil para os representantes da banca.
A falta de segurança, o colapso da justiça, a ausência de controle social e a proliferação da desordem, a transferência do poder decisório do Estado para grupos privados, o desmantelamento das políticas públicas e a inexistência de objetivos nacionais não ocorrem apenas pela incapacidade dos dirigentes dos três poderes. Esta também existe, mas prevalece o projeto da banca que tem o objetivo de demonstrar que o Estado é dispensável.
E para um Estado dispensável qualquer bem é inútil ou supérfluo. Logo venda-se tudo, como no fim da feira.
No entanto, o que mais nos importa é a defesa do Estado Nacional, do interesse nacional e do nosso projeto de nação. E aí que "a coisa pega". Não aprendemos a ser cidadãos; somos senhores ou escravos, ontem e hoje.
Veja o caro leitor um único exemplo de como funciona a estratégia da banca, com o uso das técnicas econômicas e psicossociais que ela aplica ao redor do mundo.
O exemplo que apresento é da reestruturação organizacional, desfigurando os objetivos institucionais, facilitando a corrupção e a privatização de qualquer empresa.
Este tema não tem sido aprofundado não só pelas complexidades técnicas e absoluta falta de visibilidade de seus processos, como pelo descaso que os veículos de comunicação de massa o tratam, ou melhor, o escondem.
Ele foi aplicado na Petrobrás, em 2000, no governo de FHC, e se repete agora, com o Banco do Brasil, no governo Temer.
Desculpem-me discorrer, ainda que com brevidade, sobre um tema técnico. As empresas, na imensa maioria, se organizam conforme princípios enunciados há um século pelo francês Henri Fayol e pelo estadunidense Frederick Taylor.
A Petrobrás, estruturada por Hélio Beltrão, em 1954, não fugiu à regra. Este competente brasileiro usou o que se denomina modelo departamental, aplicando-o conforme dois princípios – funcional e regional. Isto quer dizer que a estatal petroleira era gerenciada pelas técnicas empregadas: exploração e produção, refino, transporte, engenharia, pessoal, finanças etc e pelas regiões onde atuava, Refinaria de Mataripe, Região de Produção do Nordeste, Grupo Executivo para Bacia de Campos etc. O mais notável do trabalho de Hélio Beltrão foi associar ao modelo organizacional um modelo gerencial que definia hierarquicamente suas competências e, no topo, estabelecia a decisão colegiada. Com isso, a empresa tinha, simultaneamente, independência e controle das decisões. Os casos de corrupção, existentes até na Igreja Católica, eram mínimos e com frequência identificados e, de algum modo, punidos. O modelo Beltrão triunfara, numa empresa que, pelo próprio negócio, se agigantaria e se expandiria em diversas direções.
O que foi feito sob a direção da banca em 2000? Quebrou-se este modelo, fracionando-o integralmente não mais como um empresa de petróleo, mas como um empreendimento comercial, de qualquer tipo de negócio, que, como um estabelecimento colonial, deve dar o maior lucro no menor tempo possível. A isto se chamou unidades ou centros de negócio, como se houvesse outro além do petróleo. Apenas para que meu caro leitor tenha a noção da monstruosidade, não há, em qualquer outra empresa de petróleo, tal estrutura organizacional. Ao contrário, e o digo como participante de Grupo de Trabalho, nos anos 1980, da ONU, sobre a empresa integrada de petróleo, e autor de trabalho, também sobre a empresa integrada de petróleo, para a Escola Superior de Guerra, em 1992.
Mas como foi acontecer isto na Petrobrás?
Logo no início do governo de Fernando Cardoso – num processo semelhante ao que o Presidente da Associação de Engenheiros da Petrobrás (AEPET), Felipe Coutinho, tratou com profundidade no artigo "A caixa preta das Consultorias na Petrobrás" (24/08/2017) – foram contratadas duas empresas estrangeiras para reformar a Petrobrás: Booz Allen Hamilton e a SAP, esta na área de sistemas.
Conheci ambas e jamais as contrataria para assessorar minha empresa. E nem por questões éticas ou morais, mas pela capacitação técnica. Durante 16 anos trabalhei com diversos governos estrangeiros em consultoria organizacional, gerencial e de planejamento. Tive contato com estas duas e outras que atuavam nesta área. Elas trazem pacotes prontos, nem sempre discutidos com o cliente, sem atentar para as condições sociais, políticas e econômicas, e nem mesmo trato das possibilidades tecnológicas, dos países ou regiões onde serão implantadas.
Ora, a implementação destes modelos, e aqui apenas suponho, acordados com o governo Cardoso, levou ao desastre administrativo da Petrobrás e possibilitou a exploração política desta competentíssima empresa, ganhadora, por anos, de troféus internacionais por desempenho e capacitação técnica.
Agora, com o furor demolidor de um governo golpista e ilegítimo, a vítima é o Banco do Brasil, que é um símbolo de capacitação e de resultados em favor do Brasil, como a atividade agropastoril indica.
A coluna Fatos & Comentários do jornal Monitor Mercantil, em 30 de agosto de 2017, comenta a contratação da Falconi Consultores de Resultados, que tem, entre seus dirigentes, um dos donos do Banco Itaú. E numa contratação sem licitação, como as que critica o Engenheiro Felipe Coutinho. Por conseguinte, caros leitores, preparem-se para os "escândalos do Banco do Brasil", que antecederão sua temerosa privataria.
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