Por Joaquim de Carvalho
Como nas diretas em 1984/85, na eleição de 1989, no impeachment do Color e em outros eventos marcantes da história do Brasil, nunca foi tão fácil saber que lado escolher: defender Lula.
E defender Lula é defender a democracia e, defendendo-a, se defende o Brasil enquanto Nação.
Não é Lula que foi julgado por Sérgio Moro.
É um projeto de País.
Se o julgamento fosse sobre Lula ou tríplex, talvez não houvesse sequer denúncia do Ministério Público Federal.
A razão é simples: Não existem provas de que o tríplex do Guarujá pertence ou pertenceu a Lula.
Enquanto permanece nas mãos de Moro, discutir o mérito dessa ação é perda de tempo, porque ele tem lado na história, e esse lado é contra o projeto de País representado por Lula.
Ao que tudo indica, a OAS queria sim que o tríplex fosse dele – e quem não gostaria que um ex-presidente que deixou o cargo com 85% de aprovação ocupasse um imóvel em um empreendimento seu?
E há outra razão para que quisesse: Marisa Letícia, a esposa de Lula, já tinha pago por uma cota do condomínio e não tinha optado por ficar com uma unidade.
Para a OAS, era entregar uma unidade, receber a diferença, ou devolver o que foi pago.
Se fosse propina, era preciso que houvesse alguma contrapartida de Lula.
E não há.
A OAS presta serviços para empresas públicas e governos desde que foi criada, por iniciativa de alguns jovens engenheiros da Bahia, entre eles um genro do ex-governador do Estado Antônio Carlos Magalhães.
Não existe um único indício de que Lula tenha determinado ou insinuado favorecimento à empreiteira.
Portanto, não era propina.
O processo contém provas, apresentadas pela defesa, de que o imóvel sempre se manteve como propriedade da OAS.
Tanto que foi dado em garantia a credores, num processo de recuperação judicial, e também de uma operação bancária.
Loucura imaginar que, sendo de Lula, o tríplex seria dado em garantia da empresa.
As entranhas da corrupção, expostas a partir da Lava Jato, apresentam transações em dinheiro vivo, como no caso de Aécio e Temer, ou em transferências bancárias fora do Brasil.
Lula, sendo chefe de tudo isso, ficaria com um tríplex que era, praticamente, hipotecado?
Além disso, um bem de que Lula e a família não desfrutaram, pois não passaram uma noite sequer ali, desde que a OAS assumiu o empreendimento, em 2009.
Ah, mas tem uma foto de Lula visitando o apartamento.
É verdade: a OAS queria que o tríplex fosse dele.
E ele não aceitou.
Como se sabe que não aceitou?
Ele não usou o apartamento.
Dá para imaginar Lula se divertindo com filhos e netos numa praia do Guarujá, uma das mais lotadas do Brasil?
Impossível.
Não, essa sentença juridicamente não faz sentido.
E não faz porque não é uma sentença jurídica.
É uma sentença política.
Moro conduziu o processo como quem já tinha tomado a decisão.
E deixou transparecer isso várias vezes, como quando indeferiu um pedido de provas da defesa de Lula. “É perda de tempo”.
Neste momento, quando se veem argumentos de defesa e ataque a Lula, fica muito claro que o ódio, a insensatez, o oportunismo ou ignorância soberba estão de um lado.
Desse lado, poderia citar Doria, Marina Silva, Jair Bolsonaro ou a paneleira remanescente.
Apresentam a Bandeira Nacional como símbolo de seus propósitos mesquinhos.
De outro, as personalidades mundiais que se colocaram contra o arbítrio, como o Nobel da Paz Perez Esquivel.
Na véspera da última eleição, em 2014, fui a Minas Gerais, num fim de semana, para apurar a história do aeroporto na fazenda do tio de Aécio Neves, e a pavimentação e o desvio que beneficiaram descaradamente a fazenda de Roberto Irineu Marinho.
Obra do governo de Aécio Neves.
Na estrada e nas cidades, os aecistas eram ostensivos, muito barulhentos, em suas SUVs com bandeiras azuis.
Parecia impossível que o próprio Aécio viesse a ser derrotado, inclusive em Minas Gerais, alguns dias depois.
Estava em Botelhos, na região de Poços de Caldas, e conversei com alguns homens simples que estavam sentados na praça. Era domingo.
Um deles tinha trabalhado na fazenda de Roberto Irineu Marinho, na colheita de café, como boia fria.
Eu tinha visto na casa do administrador da fazenda de Roberto Irineu Marinho uma camionete cabine dupla, carro esportivo e uma moto, todas adesivadas com o 45 de Aécio e perguntei ao boia fria, aparência de uns 60 anos de idade, se ele também ia de 45.
Magro, com as pernas cruzadas, boné na cabeça, barba por fazer, o homem de queixo alongado respondeu com uma parábola:
— Olha, antes do Lula, a gente só comia arroz e de vez em quando um franguinho. Depois, a gente começou a comer um pouco de carne e beber um guaraná. Eu acho que, se esse moço ganhar, vão tirar o guaraná da nossa mesa.
No domingo seguinte, deu Dilma, não por ela, mas pelo guaraná.
E agora o guaraná está sendo retirado da mesa, não pelo voto, mas pela força do golpe, que começou por derrubar Dilma e agora impõe que se interdite politicamente Lula.
Para os democratas, nunca foi tão fácil saber de que lado ficar.
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