Dirigentes que apoiaram decididamente o impeachment, como Paulo Skaf, presidente da Fiesp, e Robson Andrade, presidente da CNI, reagiram com desdém ao corte de um ponto percentual na Selic, recolocando-a no patamar de um dígito. "O BC está com a preocupação errada. A inflação está sob controle. O que o Brasil precisa, no momento, é retomar o crescimento e gerar novos empregos. E isso só vai acontecer com juros mais baixos", declarou Skaf. “O Copom poderia ter feito um corte mais ousado dos juros, como era o nosso desejo. O Banco Central perdeu uma oportunidade”, disse Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo.
A redução moderada dos juros, já esperada, foi só um pretexto para externarem uma insatisfação que é mais ampla e reflete o ceticismo em relação à capacidade do governo de colocar a economia “nos trilhos”, como prometeu o presidente dos 5% de aprovação. A CNI, por exemplo, divulgou nota bastante ácida reclamando da decisão da Camex (veja a íntegra no final da matéria) de revalidar, até 2020, um acordo com o Chile pelo qual só navios com bandeiras dos dois países podem operar comercialmente entre eles. A medida visaria, segundo a nota, proteger duas empresas nacionais, que não foram identificadas, impedindo que navios de outras nacionalidades façam fretes a custos mais baixos com redução no preço final dos produtos importados ou exportados. “O setor privado não encontra nenhuma justificativa plausível para a decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) que adiou o fim do acordo marítimo entre o Brasil e o Chile para 2020. A decisão não ajuda a melhorar a competitividade da indústria. Estamos precisando de soluções imediatas e positivas, que gerem emprego, renda e um ambiente que se permita investir mais. Não é o que acontece com essa decisão”, disse Robson Andrade na nota. O fim do acordo já fora acertado bilateralmente mas a Camex, depois de cozinhar o assunto por meses, ontem resolveu manter a reserva de mercado até 2020.
As queixas da indústria começam ser externadas com mais estridência. O acesso ao BNDES continua complicado, a TLP é refugada, a capacidade instalada, por conta da recessão, continua sendo utilizada abaixo da média histórica, o aumento dos combustíveis terá impacto sobre os custos de produção, o fim da política de conteúdo nacional reduz encomendas do setor petrolífero etc. etc. O encanto com Meirelles também vai se quebrando a olhos vistos. Cresceu com o aumento de impostos e aumentará mais ainda se ele ceder às pressões para afrouxar a meta fiscal para atender à operação salva-Temer.
Enquanto isso, o governo abre as torneiras para enterrar a denúncia contra Temer e apega-se a medidas fiscais de resultado duvidoso, como PDV para funcionários públicos e a cobrança de benefícios pagos indevidamente a pessoas que já morreram. Quem vai devolver e quando? Vem aí mais arrocho fiscal, como o adiamento dos reajustes salariais negociados em 2016, o que reforça a percepção de que não há segurança jurídica no país.
Mas entre esta irritação com o governo e seu afastamento há uma distância que o empresariado não parece disposto a percorrer, pressionando o Congresso pela aceitação da denúncia contra Temer. Contra Dilma, engajaram-se, alguns até financiaram a compra de votos. Não tendo certeza de que Temer cairia, resguardam-se. A população, de sua parte, expressa na pesquisas seu repúdio ao governo mas não se anima a protestar nas ruas. Resignou-se ao infortúnio.
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