Paneleiro desaparecido
POR WILLY DELVALLE
2015 e 2016 foram anos de disputa acirrada nas
ruas do Brasil. Eram só multidões, contra e a favor do impeachment da
presidente Dilma Rousseff. O país viu a maior manifestação de sua
história, pedindo a derrubada da petista.
2017 chegou com a insatisfação de praticamente
todos. A situação do país só piorou. Novos fatos e escândalos corroeram a
imagem de um presidente da República transformado em unanimidade. Nem
por isso o país se mobilizou nas ruas contra Temer do mesmo jeito como
foi contra Dilma.
Douglas Izzo, membro da direção nacional da CUT,
discorda que a mobilização contra Temer seja baixa. Ele cita uma série
de atos realizados esse ano, como o do Largo da Batata, no dia 28 de
abril, quando uma greve geral paralisou o país.
Segundo a central sindical, 100 mil pessoas
protestaram na praça em São Paulo. Mas por que os protestos não têm a
mesma dimensão daqueles contrários a Dilma?
“As redes de televisão trabalhavam como um grande
evento durante um mês fazendo chamada para as grandes mobilizações de
setores médios da sociedade e das elites”, diz.
Aliados com os quais o Fora Temer não pode contar,
apesar da campanha da Rede Globo para derrubá-lo. “Portais e a grande
imprensa apoiam as políticas introduzidas a partir do golpe. A Globo
defende eleição indireta. As nossas manifestações defendem eleição
direta, o fim da reforma da previdência e da reforma trabalhista, são
contra as políticas do governo que colocou o país numa recessão
profunda”, argumenta.
Rivalidade e esgotamento
Cláudio Couto, professor de Ciência Política da
Fundação Getúlio Vargas, aponta que as grandes últimas mobilizações
sociais da história do Brasil, Diretas Já, Fora Collor e os atos pró e
contra o impeachment de Dilma Rousseff têm um intervalo de anos entre
si. “Isso não acontece toda hora”, explica.
Ele diz que é preciso haver uma espécie de
“energia mobilizadora”. E que agora não há novos líderes para “puxar” as
mobilizações. Para piorar, os grupos que antes lutavam contra ou a
favor do impeachment criaram tamanho clima de rivalidade que
dificilmente seriam capazes de se unir, estando lado a lado, para pedir a
queda do presidente Temer. Por outro lado, cada um sofre de uma espécie
de desmoralização.
Maximiliano Vicente, professor de Realidade
Socioeconômica e Política da Unesp, atribui parte da desmobilização do
Fora Temer nas ruas à ligação dos movimentos que o organizam ao PT, como
a CUT e o MST. “Os movimentos que pedem Fora Temer são os mesmos que
apoiavam o PT. Então a população tem receio de que se dá respaldo a
esses movimentos, no fundo está querendo que o PT volte”, explica.
Na esquerda, “por mais que haja exageros por parte da Lava
Jato, por parte daqueles que capitanearam o impeachment, há também
evidências de que houve sim corrupção”, analisa Cláudio Couto. Isso
resultaria num certo constrangimento por parte dos militantes.
A direita
Na visão de Maximiliano, a direita, que levou
Temer ao poder, arrefeceu. “Perderam legitimidade porque o candidato
deles, Aécio, se mostrou mais corrupto inclusive do que o PT”. Uma coisa
não exclui a outra. “O fato de não participar na rua não significa que
não existe na população o descontentamento. A rejeição (a Temer) é maior
do que qualquer outro presidente que tenha sofrido impeachment”.
Para Cláudio Couto, os movimentos organizadores
dos atos Fora Dilma se declaravam como de direita. E agora é um
presidente de direita que está no poder, envolvido em escândalos de
corrupção. “Então, quem bateu panela para a Dilma não vai bater panela
para o Temer, mesmo que as evidências de corrupção sejam muito maiores
do que no momento anterior”.
Crise de representatividade
Maximiliano explica que há no Brasil um processo
de descrença de todos os tipos de organização política. É o caso de
Wanderley Malvazzo, 64 anos, microempresário, morador de Arujá, região
metropolitana de São Paulo.
Ele protestou pela queda de Dilma Rousseff duas
vezes, em março do ano passado e em 2015, por causa da economia do país,
que, na sua visão, naufragava desde 2014. Sem Dilma, opina, a situação
do país chegou a melhorar. Mas voltou a piorar com os escândalos
envolvendo o governo Temer.
No entanto, Wanderley não voltou às ruas para
protestar. “O povo está descrente com tanta corrupção, tantos
escândalos, que os movimentos que na época da Dilma estavam agitando
hoje estão apáticos, muito calados”, diz.
O candidato à presidência que admiravam, Aécio
Neves, se envolveu em escândalos de corrupção. “O João Vaccari Neto foi
absolvido em segunda instância, o Aécio Neves só será julgado em agosto.
A Adriana Ancelmo está solta, os Neves estão soltos, com tantas
provas”, observa.
CUT e MST, movimentos que se engajam pelo Fora
Temer, são para ele, que é antipetista, patrocinados pelo PT. E a mídia,
na sua percepção, dá menos ênfase para o Fora Temer do que deu aos atos
Fora Dilma. Para Wanderley, é sinal de que a classe empresarial está
com Temer. E ele não se vê representado por ninguém. “Uma andorinha não
faz verão”, cita.
Empresariado
Enquanto o “Fora Dilma” teve apoio explícito e
financeiro do empresariado brasileiro, o mesmo não se dá com o “Fora
Temer”. O professor Maximiliano Vicente explica que aquilo que os
empresários queriam, Temer fez.
Colocou em pauta as Reformas Trabalhista, da
Previdência e o Teto dos Gastos Públicos. O receio é que essas reformas
sejam interrompidas caso Temer seja deposto. Assim, a ação empresarial
está voltada não para as ruas, mas para o Congresso. “Temer não tem uma
base aliada, tem uma base comprada. E quem paga esse pato? O setor
produtivo”, afirma.
Para Couto, o empresariado está dividido. De um
lado, aqueles que preferem menos instabilidade política e a manutenção
do governo Temer até as eleições do ano que vem, “apesar dos pesares”.
Do outro, os empresários refletidos pela Rede Globo, que prefere ver
alguém com mais capacidade de conduzir as reformas do que um “morto
vivo, como Temer vai se tornando, um presidente muito mais voltado para a
preservação do seu mandato”.
Maximiliano Vicente acredita que pode haver um
acréscimo de participação popular no ato convocado para o dia da greve
geral, nesta sexta-feira. “Os dados que estão aparecendo ultimamente são
muito comprometedores para o governo Temer. Ao ponto que isso incentiva
mais as pessoas a participarem”.
Mesmo assim, ele não espera algo como as
manifestações do ano passado. Cláudio Couto afirma que, na ausência de
novos líderes, talvez só novos fatos contra Temer sejam capazes de gerar
uma grande mobilização. A CUT não informa quantas pessoas espera reunir
no ato do dia 30.
Wanderley diz que pode ser que vá, mas é provável que não. “Tenho outros compromissos”, afirma.
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