Mello Franco sobre Bolsonaro: “autores lembram que Hitler e Mussolini chegaram ao poder sem apelar à força”

Mello Franco sobre Bolsonaro: “autores lembram que Hitler e Mussolini chegaram ao poder sem apelar à força”


A Coluna de Bernardo Mello Franco no Globo discute o autoritarismo e as novas formas de golpe que podem vir de Jair Bolsonaro. “Foi-se o tempo em que as democracias só tombavam sob a mira de tanques e baionetas. No século passado, golpes clássicos derrubaram governos eleitos em quase toda a América Latina. Agora a ameaça não depende mais do uso da força. ‘O retrocesso democrático hoje começa nas urnas’, afirmam os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt em ‘Como as democracias morrem’. Os professores de Harvard mostram como líderes eleitos podem conduzir seus países ao autoritarismo. O livro foi escrito sob o impacto da vitória de Donald Trump nos EUA. No entanto, é impossível atravessá-lo sem pensar na encruzilhada do Brasil em 2018”.
O jornalista desenvolve seu raciocínio: “num recuo na história, os autores lembram que Hitler e Mussolini também chegaram ao poder sem apelar à força. Na Alemanha dos anos 30, líderes experientes pensaram que poderiam domar o chefe do Partido Nazista, um populista de discurso radical. Num ambiente de revolta contra a política tradicional, ele encantava multidões com um penteado exótico e a promessa de restaurar a ordem e combater o comunismo. Qualquer semelhança… Levitsky e Ziblatt listam quatro sinais de alerta para identificar um aspirante a ditador: ‘Devemos nos preocupar quando políticos: 1) rejeitam, em palavras ou ações, as regras democráticas do jogo; 2) negam a legitimidade de oponentes; 3) toleram e encorajam a violência; 4) dão indicações de disposição para restringir liberdades civis de oponentes, inclusive a mídia'”.
E conclui: “o líder das pesquisas no Brasil gabarita o teste, mas há quem pense que ele não oferece risco à democracia. Segundo esta visão, Congresso e Judiciário seriam capazes de conter um presidente autoritário, mesmo que ele demonstre desprezo pela Constituição e pelos adversários políticos. ‘Isso é um erro histórico semelhante ao cometido pelos conservadores alemães em 1932’, escreveu Levitsky, em artigo na ‘Folha de S.Paulo’. ‘Para justificar seu apoio a um autoritário, muita gente diz que Bolsonaro talvez não seja tão ruim’, observou. Segundo o professor, este argumento se baseia em três ideias enganosas: ‘Ele não fará o que diz’, ‘Ele é incompetente demais para ameaçar a democracia’ e ‘Somos capazes de controlá-lo’. ‘Apoiar um candidato autoritário é um jogo perigoso que raramente termina bem’, avisou Levitsky. O texto foi publicado na sexta-feira. No mesmo dia, o capitão ressurgiu na TV com uma ameaça: ‘Não aceito um resultado eleitoral diferente da minha eleição'”.

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