Mídia esconde desaprovação do Judiciário. Por Arnaldo César

Mídia esconde desaprovação do Judiciário. Por Arnaldo César

Publicado originalmente no blog de Marcelo Auler
POR ARNALDO CÉSAR, jornalista
Quase noventa por cento (para ser exato 89,35%) dos 2.002 cidadãos ouvidos, na última segunda-feira (dia 14/05), pelo instituto de pesquisa MDA (contratado pela Confederação Nacional do Transporte) desconfiam da Justiça brasileira. Algo como 90,3% afirmaram que ela não é igual para todos. Mais da metade (55,7%) consideram a atuação dela ruim ou péssima.
Esta parte da enquete CNT/MDA não encantou os editores do Jornal Nacional e muito menos dos demais veículos da grande mídia nacional (com exceção apenas para o Valor Econômico que se ocupou do assunto, sem maiores estardalhaços). Estes percentuais não condizem muito com o noticiário chapa branca que desejam impor aos seus leitores.
É bom lembrar que pesquisas de opinião a quatro meses e meio de uma eleição presidencial servem, única e tão somente, para revelarem um retrato do momento em que é feito. Nas campanhas eleitorais, mostram uma tendência. No caso específico do Judiciário, porém, apontam a total e absoluta repulsa que a maioria dos entrevistados pelo CNT/MDA tem por este Poder.
Parcial, dispendioso e incompetente é assim que boa parte dos brasileiros enxerga essa gigantesca estrutura formada por 91 tribunais e seus respectivos Ministérios Públicos. A tão famosa cruzada contra a corrupção capitaneada pelo Supremo juntamente com as instâncias inferiores da Justiça Federal, Ministério Público e Polícia Federal, certamente, merecem da opinião pública a mesma consideração negativa.
Essa supermáquina criada para nos garantir o estado de direito custava, segundo dados do próprio Conselho Nacional de Justiça – CNJ – de 2014, a bagatela de R$ 62,3 bilhões por ano. Abocanhava 1,3% do Produto Interno Bruto – PIB – e era maior que o orçamento de 12 estados brasileiros. Custava e continua custando algo como R$ 306,35/ano por habitante. Está entre as mais caras e ineficientes do mundo.
Esta semana o “pop start” da comunidade togada, o juiz Sérgio Moro, desfilou por Nova Iorque. Num smoking digno de artista das novelas da Globo deixou-se fotografar  ao lado da fina flor do capitalismo pátrio e norte-americano. Acompanhado da esposa, sorria com o semblante de quem havia cumprido a tarefa que lhe fora encomendada pelos poderosos daqui e de lá.
Justiça seja feita, o exibicionismo não é um predicado que se manifesta unicamente no “algoz de Curitiba”. Os próceres do Supremo cultivam um fascínio incontido pelos microfones e holofotes. O pessoal do Ministério Público não dispensa uma oportunidade sequer de ir para frente das câmeras mostrar “power points” sem pé nem cabeça.  Já a turma da Polícia Federal prefere ostentar seus agentes marombados e as mais loiras delegadas que a água oxigenada de farmácia consegue produzir.
É animador que (mesmo em uma pesquisa patrocinada por uma das mais reacionárias federações de sindicatos patronais do País) venha à tona a insatisfação dos brasileiros com a insensatez daqueles que conduzem uma estrutura vital para o fortalecimento e consolidação da jovem democracia brasileira. Isso mostra que, pelo menos neste universo de 2.002 entrevistados pela CNT/MDA, ninguém é bobo.
Olhando a pesquisa por este item, também pode se entender as razões pelas quais Lula – preso há mais de um mês – na corrida presidencial continua liderando com a folgada margem de 32,4% contra 16,7% do deputado Jair Bolsonaro. O mais curioso é que a cada rodada desta enquete o ex-presidente cresce 1% e seus mais próximo adversário cai 2%.
Lembrando sempre que pesquisa de opinião é apenas um retrato do momento, podemos concluir que o “Partido da Justiça” que trancafiou o ex-presidente, num cubículo da Polícia Federal de Curitiba, não conseguiu tirar do páreo presidencial o seu mais vigoroso postulante.
“A prática deslavada do ‘lawfare’ por Moro, aliada aos protecionismos e às trapalhadas recorrentes da ministra presidente do Supremo, Cármen Lúcia e ad caterva, por enquanto, não surtiram os efeitos eleitorais desejados. Ao contrário. Só serviram para que o cidadão comum – aquele que irá às urnas no dia 8 de outubro escolher no novo presidente – continue nutrindo pelos homens de toga total desprezo”.
É por essas e por outras que na pesquisa da CNT/MDA a boa e velha igreja católica aparece (40,1%) como a instituição em que os brasileiros mais confiam. Os Correios e a Imprensa que sempre tinham um bom desempenho neste tipo ranking, desta vez, nem aparecem na lista dos cinco mais confiáveis.

Comentários