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Fui chamado na Lava Jato para “fechar história”, diz delator
Depoimento reforça tese de que investigadores estariam com dificuldades de coletar dados confiáveis do Drousys; Ex-diretor da Odebrecht disse que foi chamado por procuradores para procurar valores para validar dados de inquéritos movidos pelo MPF  
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(Foto Agência PT / Lula Marques) 
Jornal GGN - Em depoimento prestado para a Lava Jato no dia 23 de fevereiro, o ex-diretor da Odebrecht Fernando Migliaccio disse que foi chamado pelos procuradores da operação para "tentar fechar uma história". 
A declaração foi feita durante uma série de perguntas de Cristiano Zanin, advogado do ex-presidente Lula, que chegou a ser interrompido por Sérgio Moro. “Doutor, nós vamos chegar a algum lugar com essa inquirição, porque nós estamos rodeando, rodeando e estamos chegando aonde mesmo?”, contra-argumentou o juiz que coordena a Lava Jato. 
Zanin perguntou para Migliaccio se sabia da origem dos documentos que avaliou junto ao Ministério Público Federal, no âmbito de seu acordo de delação premiada, se tinham sido extraídos do Drousys, sistema de informática para comunicação do setor de propinas da Odebrecht.
“Não, não me disseram. Mas pelo e-mail que eu vi, que eu mexi, tive chance de procurar a informação que eles queriam, eu pude observar que os e-mails eram realmente do Drousys”. Em seguida Zanin questionou se os procuradores pediram informações mais específicas, como quem seria o beneficiário dos valores encontrados na planilha do Drousys. 
“Eles queriam que eu achasse alguns depósitos para uma conta no exterior”, respondeu o ex-executivo, quando Sérgio Moro fez a interrupção. Após justificar as questões e dizer que estava finalizando, Zanin se voltou para Migliaccio com a mesma pergunta, tendo como resposta:
"A busca foi por uns valores que eles tinham, e que tinham uma confusão ou uma linha de investigação de valor, de parcelas de alguns valores, que a gente tentou descobrir as datas, a correspondência de valor de dólar pra real, pra tentar fechar uma história."
Zanin reitera a pergunta: "Pra tentar fechar uma história, é isso?", escutando como resposta final um fatídico "sim", do ex-diretor. 
O depoimento de Migliaccio também reforça a tese de que os investigadores da Lava Jato estariam com dificuldades de coletar dados confiáveis do Drousys, entregue para a Polícia Federal com adulterações identificadas por um laudo técnico da própria PF.
Isso ficou patente quando respondeu às perguntas do advogado de Lula sobre o acesso ao sistema e quais dados teria extraído da plataforma quando selou o acordo de delação premiada com o Supremo Tribunal Federal no âmbito da Lava Jato.
"Não, eu não entreguei nada [do sistema Drousys]", respondeu. "Só tive acesso ao Drousys quando fui chamado para esclarecer uma dúvida, aqui no Brasil", explicou completando em seguida que nunca teve acesso direto ao sistema, mas a e-mails apresentados pelo Ministério Público Federal, mesmo após iniciar a colaboração com a Justiça.
"Eles [os procuradores] não me deram acesso total pra ficar mexendo, vasculhando ou verificando o ambiente, né? Mas do pouco que eu tive acesso, me parecia também, eu não posso afirmar, me parecia informações extraídas de algum lugar", disse, arrematando mais adiante:
"Mas, pelo e-mail que eu vi, que eu mexi, tive chance de procurar a informação que eles queriam, eu pude observar que os e-mails eram realmente do Drousys", completou. 
Entenda
Migliaccio é um dos mais de 70 ex-executivos da Odebrecht que selaram acordo de delação premiada no STF. Ele foi detido em fevereiro de 2006 pelas autoridades da Suíça a pedido da justiça brasileira no contexto da operação Acarajé, a 23ª fase da Lava Jato, que também deteve o marqueteiro João Santana e a esposa, Monica Moura. 
Migliaccio atuou no Antígua Overseas Bank (AOB), banco que cuidava das contas da empreiteira fechado em 2010. Logo após liquidar o AOB, o grupo de executivos responsáveis pelo banco comprou 67% da participação societária do Meinl Bank, de Viena, com o objetivo de operar as contas encerradas do Antígua.
No depoimento mais recente, do dia 23 de fevereiro, o ex-executivo pontua que todo o material que detinha enquanto estava na Suíça "foi apreendido" pelas autoridades daquele país e enviado ao Brasil.
O Ministério Público da Suíça também encomendou uma perícia para a empresa especializada em analisar dispositivos eletrônicos, a Forensic Risk Alliance (FRA), com o objetivo de avaliar a honestidade dos dados então disponíveis no Drousys.
Assim como a Polícia Federal no Brasil, a FRA identificou que houve manipulação de arquivos pela Odebrecht antes mesmo de entregar o material para as autoridades suíças.  

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