Cruvinel e PHA no JB: o Rio merece!

O Brasil da polarização raivosa precisa reaprender o convívio na divergência

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(Reprodução/Jornal do Brasil)
Conversa Afiada reproduz, a partir do histórico retorno do Jornal do Brasil às bancas, os artigos de Paulo Henrique Amorim e Tereza Cruvinel:

Catito não será Nascimento Brito


Paulo Henrique Amorim*
Manuel Francisco do Nascimento Brito teve três oportunidades de montar uma Rede de Televisão, de JK a Figueiredo.
Jogou as três fora.
Por incompetência e inapetência.
Como cheguei a dizer: ele não era “dono de jornal”, atividade que dispensava ser empresário e empreendedor.
Ser “dono de jornal” significava ter poder político e glamour. E isso lhe bastava. E não era pouco…
(Eu estava na sala, numa reunião de “primeira página”, no início da noite, quando Delfim Netto ligou para o editor-chefe Walter Fontoura para avisar que tinha acabado de desvalorizar a moeda...)
Brito deveria ter ido ao CADE, Conselho de Defesa Economica para denunciar o massacre que passou a sofrer com a publicidade maciça do jornal Globo na Rede Globo
Mas, não foi, porque era arrogante e não se rebaixaria a demonstrar que o odiado rival estava para destruí-lo.
Quando o JB fechou nao era mais o melhor jornal do Brasil.
Culpa mais do Brito do que do Roberto Marinho.
Luiz Mario Gazzaneo era o chefe de reportagem e recebeu no transatlântico da Avenida Brasil 500 um amigo comunista italiano.
Foram a andar por andar, visitaram a rotativa americana – último modelo de uma linha logo apos desativada… - e, ao deixar o prédio monumental, perguntou ao Gazza:
- Quantos jornais saem daqui, por dia?
- Um.
- Quantos exemplares roda?
- 120 mil, 150 mil durante a semana, 200 mil aos domingos.
- Melhor procurar emprego, Luigi...
Quando o melhor jornal do Brasil fechou, uma parcela significativa da Capital da República, ainda hoje, o Rio, perdeu um interlocutor valioso.
O jornal era conservador na linha editorial.
Mas, era plural, ou mais poroso que o Globo. Mais aberto, com traços de Drummond e Alceu Amoroso Lima. Sem falar de seu editor-chefe Janio de Freitas, cuja influência lá perdurou por muito tempo.
Quando fui ser Editor de Economia, o lendário Secretario José Silveira me advertiu, no dia da chegada.
- Na Economia, ate o contínuo é gordo.
Walter Fontoura me tinha dito para fazer uma limpeza.
O sub-editor de “Indústria” era relações publicas da Shell…
O sub-editor de “Bolsa” trabalhava na Bolsa e a Bolsa do Rio só subia, porque não caía. Quando caía “oscilava”…
Quem me jogou uma boia de salvamento foi o sub-editor de Finanças, Gilberto Menezes Côrtes.
Que se tornou meu dedicado, eficiente e labor-maníaco colaborador - e, depois, Editor de Economia.
Agora, Gilberto vai dirigir a redação do JB do Catito.
O Rio merece!
* Paulo Henrique Amorim, editor de Economia, redator-chefe e editor-chefe do melhor jornal do Brasil!
***

Lugar da política


Tereza Cruvinel
No Jornal do Brasil que hoje ressurge impresso, este será, como em outros tempos, um espaço reservado à decifração dos signos da política, à análise e à interpretação dos fatos reportados como notícia. Ocupá-lo, neste momento delicadíssimo para o Brasil e para o Rio, é desa o que assumo com reverência a seu significado na história do jornal e à memória de quem nele escreveu por 30 anos, o mestre maior do colunismo político, Carlos Castello Branco.
Traduzir o jogo político nunca foi fácil num país como o Brasil, em que a própria República nasceu de uma quartelada, abrindo a sequência de crises, golpes e sobressaltos, alternando ciclos autoritários com experimentos democráticos. Agora, este período mais longo de democracia que sucedeu à ditadura está sendo testado ao máximo, estressando as instituições no limite da anomia. A crise política conjugada com o revés econômico, a ruína do sistema herdado de 1988 e a inegável falência das elites pintam um quadro sombrio e dramático.
Não menos delicada é a situação do Rio de Janeiro. A corrupção foi elemento importante, mas não único, no processo de falência do estado. A queda nos preços do petróleo e o desarranjo em sua cadeia produtiva, a partir da Lava Jato, também facilitaram o açoite da
recessão. Com ela vieram a ruína fiscal, os atrasos no pagamento de servidores e fornecedores e o aumento do desemprego, criando a pastagem ideal para o avanço do tráfico e da violência. A incapacidade do governo estadual para enfrentar a situação ficou patente há algum tempo, exigindo uma atitude do governo federal. A intervenção, apesar do improviso, do temerário emprego das Forças Armadas e dos riscos de fracasso, neste momento conforta boa parte da população. O que o Rio não pode aceitar é que ela seja mesmo o plano eleitoreiro e populista de que se tornou suspeita, depois que o marqueteiro do presidente da República confirmou sua candidatura à reeleição. Um povo já tão castigado não merece um estelionato eleitoral em que, passado o pleito, tudo volte a ser como antes. Ou pior.
Mas é alvissareiro que, em hora tão crucial ressurja, na concretude do papel, um jornal que carrega, como o JB, a marca do pluralismo, da liberdade de expressão e da inovação. O Brasil da polarização raivosa precisa reaprender o convívio na divergência e libertar-se das bolhas de pensamento único. São compreensíveis o pessimismo e o desalento dos brasileiros, que nas pesquisas chegam a manifestar descrença na democracia. Foram muitos os descaminhos recentes mas a hora é de olhar para a frente, Estamos a sete meses de uma eleição geral que pode devolver ao povo a oportunidade de escolher governantes e renovar o Congresso, ditando um caminho legítimo a ser trilhado.
Numa conjuntura tão complexa, mais exigidos devem ser os que se arriscam como analistas. Espero corresponder, na medida da minha experiência e das minhas limitações. Os leitores do Rio me conhecem de longa data. Escrevi por mais de 20 anos uma coluna política em O Globo. Foi a partir da TVE do Rio que liderei a implantação da TV Brasil. Mineira, radicada em Brasilia, atei-me para sempre ao Rio desde quando aqui vivi na clandestinidade, durante a ditadura. Aqui tenho uma segunda morada. Acredito em dias melhores para o Brasil e o Rio.
Ao mestre, com carinho
Castellinho foi único e insubstituível e por isso não usaremos o título “Coluna do Castello” mas o “Coisas da Política”, da coluna de segunda-feira, quando ele folgava.
Dele fui e continuo sendo aprendiz, como nos anos 80, quando ele era um monstro sagrado e eu uma jovem repórter treinando como colunista.
Generoso, ele me incentivava, elogiando uma nota ou enviando um bilhetinho. “A coluna está indo bem mas aumente a nota de abertura”.
Os mais jovens e os saudosos podem visitar seu legado no site construído por sua filha Luciana, reunindo todas as suas colunas e textos. O endereço é www.carloscastellobranco.com.br

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