O PRÉSAL É DO BRASIL

Deputados aprovam projeto de Serra que tira da Petrobras exclusividade do Pré-Sal – e você sabe mesmo o que isso significa?
Publicado em 07/07/2016 por Hildegard Angel
Este 7 de julho de 2016 prenuncia-se data para ser lembrada pelo povo brasileiro, em breve futuro, com choro e ranger de dentes.
Hoje, no mesmo exato horário em que nossos deputados federais aprovavam o Projeto de Lei de José Serra, que tira da Petrobras a exclusividade no Pré-Sal, nossa imprensa distraída preocupava-se em dar todo espaço ao discurso com choro de Eduardo Cunha.
O texto original de Serra foi aprovado na íntegra, conforme o relatório do deputado da Bahia José Carlos Aleluia, à revelia da análise da Comissão Especial da Petrobras e Exploração do Pré-Sal, cujas mudanças propostas ao projeto foram todas rejeitadas… Bingo!
As Chevron da vida devem estar estourando champagne nas praias de Tio Sam.
Agora, o texto segue direto para o Plenário da Câmara, aquele que vota para “o meu filho”, “o meu pai”, a mamãe”, e todos os ilustres familiares seguem presos no dia seguinte…
Como bem alertou durante a votação o deputado Glauber Braga, “o que estamos votando aqui é o início do processo de privatização da Petrobras e o deputado Aleluia sabe muito bem disso”.
Irão os lucros de nossa descoberta para a próspera, abastada, gula estrangeira e não mais para as magras, descarnadas, carentes mãos de nossa saúde pública e de nossa educação, como tanto necessitamos e pretendíamos.
Para discutir nosso país, é preciso estar bem informado, e infelizmente a grande imprensa não tem sido boa conselheira nesse item.
Leiam abaixo a contribuição valiosa do engenheiro especialista no assunto, Ricardo Maranhão, ao debate:
AINDA O PRÉ-SAL
*Ricardo Maranhão
O PRÉ-SAL é um conjunto de rochas carbonáticas, situadas no litoral brasileiro, com grandes acumulações de óleo e gás. Sobre estas rochas foi depositada, a milhões de anos, uma extensa camada de sal que pode ter até dois mil metros de espessura. A profundidade total dessas rochas é de até 8000 metros, em relação à superfície do mar, onde a lâmina d’água é superior a dois mil metros.
O PRÉ-SAL constitui uma nova fronteira exploratória, com características inéditas. Empresas multinacionais estão explorando áreas semelhantes, na Costa Ocidental da África. Algumas aproveitando o aprendizado obtido nas parcerias com a PETROBRÁS.
Registro que o PRÉ-SAL é uma das maiores, senão a maior, descoberta de petróleo, no mundo, nos últimos 20 anos. Estudos bem fundamentados, do Instituto Nacional de Óleo e Gás – INOG, vinculado à UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, elaborados por CLEVELAND JONES e HERNANE CHAVES, sinalizam, com 90% de probabilidade, para reservas da ordem de 176 bilhões de barris. Estas reservas, com possibilidade de 10%, podem chegar a 273 bilhões de barris, suficientes para atender ao consumo de todo o mundo, por seis anos.
Destaco que os números acima não incluem os 30 a 40 bilhões de barris que já foram descobertos.
Os reservatórios podem estar a até 340 quilômetros do continente, onde a lâmina d’água atinge 2400 metros e os poços profundidades de 7000 a 8000 metros.
O PRÉ-SAL foi descoberto por brasileiros. Pelo corpo técnico da PETROBRÁS, competente, motivado e impulsionado pelo sentimento de patriotismo, cônscio de sua missão criadora de condições necessárias à Soberania Energética de nosso País. Mas, não somente pelos combatentes da PETROBRÁS. Eles contaram e contam com apoio de dezenas de universidades e centros de pesquisas, fornecedores de materiais e equipamentos e empresas de engenharia brasileiras, que atuam em articulação com a nossa maior Companhia.
O polígono do PRÉ-SAL se estende pelo litoral dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, com área aproximada de 149 mil quilômetros quadrados, abrangendo as bacias de Santos e Campos. Esta área corresponde a 3,4 vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro. Os limites da área foram fixados a partir de avaliações e interpretações geológicas. Não está descartada a possibilidade dos reservatórios do PRÉ- SAL estarem interligados.
Os desafios foram e são enormes. As grandes distâncias do continente, dificultando logística. As elevadas pressões e temperaturas exigem o desenvolvimento de materiais inéditos. A presença de gases, como o dióxido de carbono e gás sulfídrico. Os agentes que provocam forte corrosão e as características da crosta terrestre, que ensejam a possibilidade de desmoronamento dos poços. Tudo isto, e muito mais, foi superado, com obstinação, pelos brasileiros.
O esforço hercúleo, que persiste, foi recompensado.
As jazidas são monumentais. O óleo é leve, de excelente qualidade, com cotação elevada no mercado. Os poços têm produtividade extraordinária. Alguns produzem até 35.000 barris/dia de óleo ou 41.000 barris/dia de óleo equivalente (1000 m³ de gás natural = 1 m³ de óleo = 6,29 barris).
É preciso destacar este número: QUARENTA E UM MIL BARRIS POR DIA, DE ÓLEO EQUIVALENTE. Para entendermos o que significa isto damos um exemplo.
A PETROBRÁS produz petróleo no Brasil, em terra (onshore) e offshore (na plataforma continental). Os estados produtores são Amazonas (terra), Maranhão (terra), Ceará (terra e mar), Rio Grande do Norte (terra e mar), Sergipe (terra e mar), Alagoas (terra), Bahia (terra e mar), Espírito Santo (terra e mar), Rio de Janeiro (mar), São Paulo (Mar), Paraná (terra, óleo de xisto, em São Mateus do Sul).
Para que possamos entender melhor o significado dos quarenta e um mil barris /dia de um único poço no PRÉ-SAL, consideremos o CAMPO DE FAZENDA BELÉM, no Estado do Ceará. FAZENDA BELÉM é um campo gigante, descoberto em março de 1980, reserva da ordem de 700 milhões de barris. Nele foram perfurados nada menos de 1.000 poços, dos quais 395 permanecem em produção. Este conjunto de 395 poços produz, apenas, 1.800 barris/dia ou pouco menos de 5 barris/dia por poço!!! Ou seja, em FAZENDA BELÉM um poço produz, em média, 5 barris/dia. No PRÉ-SAL, de um único poço são extraídos nada menos de quarenta e um mil barris de óleo equivalente por dia!!!
Outra característica importantíssima do PRÉ-SAL é o baixo risco geológico que foi comprovado pela Petrobrás, após pesados investimentos em vários poços pioneiros exploratórios, com grande risco, o que certamente nenhuma empresa estrangeira faria.
Exemplo desta inapetência das empresas petrolíferas estrangeiras em investir no Brasil é o da a Shell, que detinha a concessão do bloco onde depois a Petrobrás enfrentou o risco exploratório com extrema competência, investiu pesadamente na perfuração de um poço pioneiro profundo e descobriu a mega acumulação de Libra. As empresas estrangeiras não investem quando há risco, aguardam a Petrobrás investir e quando a Petrobrás descobre, como no caso do pré-sal, atuam como verdadeiros corsários, em nome de seus países de origem, para abocanhar riquezas que foram descobertas com a competência de brasileiros, com recursos financeiros brasileiros, no Brasil. O ÍNDICE DE SUCESSO (relação entre poços com óleo / poços perfurados) CHEGA A 100%, OU SEJA RISCO ZERO.
Ao superar desafios extraordinários no PRÉ-SAL, a PETROBRÁS consolida sua inquestionável liderança na exploração de petróleo em águas profundas e ultraprofundas.
Esta liderança, que já havia sido reconhecida pela OTC – Offshore Technology Conference, em 1992 e 2001, foi reafirmada, pela 3ª vez, em 2015, com a concessão do DISTINGUISHED ACHIEVEMENT AWARD FOR COMPANIES.
Descoberto em 2006, em apenas 2 anos o PRÉ-SAL já estava produzindo. Foram necessários somente 8 anos para que a produção atingisse 400 mil barris/dia. Províncias semelhantes demoraram mais tempo para superar este patamar de produção, como o Mar do Norte (9 anos), Bacia de Campos (16 anos) e a porção americana do Golfo do México (19 anos). Em apenas 10 anos, agora, em 2016, a produção do PRÉ-SAL já ultrapassa um milhão de barris/dia, atingida no dia 08 de maio.
À medida que avança na exploração a PETROBRÁS vai colhendo resultados cada vez mais expressivos e encorajadores. O primeiro poço perfurado, custou US$ 240 milhões. Dificilmente uma empresa privada correria este risco.
Em 2013 o índice de sucesso da PETROBRÁS, no PRÉ-SAL, foi de 100%.
O custo de extração vem caindo, sistematicamente, e, no final de 2015, foi de US$ 8,00/barril. Contribuem para a redução dos custos de exploração/produção, diferentes fatores dos quais podemos destacar:
– as inovações tecnológicas introduzidas pela PETROBRÁS; – a produtividade dos poços, com redução nas atividades de perfuração; – novas técnicas de perfuração, com diminuição na completação dos poços.
O custo de locação das sondas, parcela de enorme expressão no custo total, também se reduziu muito (podia chegar a US$ 500 mil/dia).
A descoberta do PRÉ-SAL nos colocou diante de duas realidades, até então não verificadas na indústria brasileira do petróleo: – a dimensão extraordinária das jazidas, em áreas de baixíssimo risco, ou mesmo de risco inexistente; – a elevada produtividade dos poços; – a possibilidade, praticamente já concretizada, da autosuficiência brasileira; – o posicionamento do Brasil como um dos líderes na produção mundial de petróleo; – a geração de excedentes de óleo, para exportação.
Estas circunstâncias tornaram imperiosa a mudança no marco regulatório, disciplinado pela Lei 9478, de 06 de agosto de 1997, que estabeleceu o regime de concessão. Regime em desuso. Anacrônico. Com diversos inconvenientes. Dentre eles o principal – a propriedade do óleo é do Concessionário. O Estado Nacional tem dificuldades em controlar a produção. O ritmo de extração é fixado pelo Concessionário que pode, no objetivo do lucro máximo, levar â exploração predatória das jazidas.
Decidiu então o Congresso Nacional aprovar a Lei nº 12.351, de 22.12.2010, conhecida como LEI DA PARTILHA, que trouxe importantes medidas para a defesa do interesse Na partilha o óleo é de propriedade do Estado Brasileiro. Pela Lei 12.351 todos os Consórcios que venham a ser formados para exploração do PRÉ-SAL devem ter, OBRIGATORIAMENTE, a presença da PETROBRÁS, que é OPERADORA ÚNICA, com a participação mínima de 30%. Também foi estabelecida uma política de CONTEÚDO LOCAL para assegurar uma participação mínima da indústria e da engenharia nacional nos projetos do PRÉ-SAL.
Os Consórcios são contratados mediante licitações, conduzidas pela ANP –Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Havendo necessidade deresguardar o INTERESSE NACIONAL, a PETROBRÁS pode ser contratada diretamente, sem licitação.
Fora de dúvidas um avanço em relação às concessões.
A lei permite a participação de empresas estrangeiras, em até 70% nos consórcios a serem formados. Não é, portanto, restritiva! Seus dispositivos, visam apenas à defesa do INTERESSE NACIONAL. Objetivam dar ao Estado Brasileiro um mínimo de controle sobre a extração de produto mineral, não renovável, estratégico, para a segurança econômica, energética e militar de nosso País.
Não obstante a lei ser o mínimo do que se deve exigir para salvaguardar o INTERESSE NACIONAL, há fortes pressões para tirar da PETROBRÁS o direito de sua presença obrigatória em todos os consórcios e, conseqüentemente, a condição de OPERADORA ÚNICA, nos consórcios em que esteja ausente.
Argumentam, falaciosamente, que “a PETROBRÁS terá a preferência e assumirá a participação no Consórcio, se desejar e se lhe for conveniente”.
Ora, basta um governo descuidado, incapaz de entender a importância estratégica do petróleo, para que a PETROBRÁS decline da participação.
O argumento é a falta de recursos. “A PETROBRÁS ESTÁ QUEBRADA. FALIDA”. O argumento é usado para justificar duas soluções equivocadas.
A VENDA DE ATIVOS, privatização subreptícia, disfarçada. A privatização pode desintegrar, tirar da PETROBRÁS a condição de COMPANHIA INTEGRADA. Uma das condições para o sucesso de qualquer petroleira. A venda de ativos, diminuindo o PORTE da Companhia, também inviabiliza a PETROBRÁS.
PORTE e INTEGRAÇÃO, são condições de sucesso para qualquer petroleira, segundo o INSTITUTO FRANCÊS DO PETRÓLEO.
Não negamos a dimensão do endividamento da PETROBRÁS. Todos os números da PETROBRÁS são grandes. (produção, vendas, contribuições fiscais, faturamento, etc) Mas há propostas, consistentes, para diminuir o endividamento, para limitar a venda dos ativos ao mínimo necessário, seletivamente (baixa rentabilidade, ativos ociosos, etc), sem desintegrar a empresa, sem paralisar investimentos essenciais, sem descontinuar obras que estão em fase de conclusão e que são importantes para o País.
*Ricardo Maranhão, engenheiro, ex-deputado federal, é Conselheiro do Clube de Engenharia.

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